quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Vida longa para o nosso bom e velho Roots Reggae!

Em idos de 1991, auge das viagens dos radioleiros de São Luis para Jamaica, Londres e outros recônditos por onde se escondiam as pedras, ouvi no programa do saudoso Carlos Nina o Serralheiro afirmando que tinha discos e músicas para rolar até o ano 2000. Àquela época o ano de 2000 parecia que nunca chegaria, não raras eram as especulações sobre o fim dos tempos.
E não é que as profecias se revelaram verdadeira! Pelo menos para aqueles que pensavam ser eterno o estilo de reggae que ouviam desde a década de 70 até findos dos anos 90. Os tempos daquele estilo de reggae que consagrou São Luis no cenário nacional e mundial, mostrando que um pedaço da Jamaica residia aqui, foi sendo pouco a pouco sobreposto por uma tendência musical deveras apelativa, movida tão somente por interesses econômicos e com um descaso patente com relação à qualidade.
Não quero aqui evocar a eterna luta que se trava aqui entre os adeptos do Roots tradicional e os arautos do Reggae produzido a partir do fim dos anos 90 tendo como destinatário os donos de radiolas (chamado de eletrônico ou robozinho). Pelo contrário, defendo que cada pessoa tem o livre arbítrio para ouvir o que quiser. Democracia é isso: respeito à pluralidade, às diferenças e o direito de poder escolher.
Para minha felicidade, o estilo de reggae que escolhi gostar e ouvir, o reggae roots que se filia à tradição herdada de nomes já gravados na história como Joe Higgs, Bob Marley, Ijahman Levy, Max Romeo, Owen Gray, Jonh Holt, Gregory Isaacs, mesmo diante de todo o poder da mídia, via programas de rádio e televisão, via radiolas, mesmo nadando contra toda essa forte correnteza, o velho roots sobrevive.
Anima-me e muito ver que os grupos de colecionadores vêm cada vez mais se organizando, realizando eventos, que estão incansavelmente atrás de materiais musicais novos. Materiais esses que tem um único parâmetro: a qualidade.
Alegra-me ver que os bares especializados no bom roots estão dia a dia se proliferando pela cidade, atraindo número cada vez maior de adeptos e freqüentadores.
Deixa-me com um largo sorriso ouvir em rádios em que os programas de reggae pertencem a donos de radiola, músicas como “You Never Get Away” do Boris Gardiner, “Signs and Wonders” do Don Gordon, “Back Staba” dos Israel Vibration, ou mesmo a já consagrada “So Long” do Keith Drummond & The Cables, conhecida também como melô do Trapiche.
Isso me deixa ainda mais convencido de que o bom roots nunca se esvairá, e que existe espaço para ele em qualquer ambiente que evoque o nome Reggae.
A primeira década deste nosso pueril século XXI que começa tem nos mostrado que, se por um lado o reggae em São Luis sofreu uma drástica mudança onde roots tradicional fora solapado pelo reggae produzido aqui, nos mostra também que a vitalidade das pedras dos bons tempos está cada vez mais evidente, e que os amantes, apreciadores e colecionadores ainda vão ter muito o que ouvir, dançar e difundir.
Vida longa para o nosso bom e velho Roots Reggae!

By: Ronald Corrêa*

* Pedagogo, Acadêmico de Direito e apreciador e colecionador do verdadeiro Roots.

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