quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

HISTORIA, CARACTERÍSTICAS E CURIOSIDADES DO MUNDO DAS RADIOLAS/SOUND SYSTEM

este ensaio tenta capturar e retransmitir a essência do que chamamos de Radiola no Maranhão ou os Sound Systems de Reggae como são conhecidos na Jamaica. Apresentamos um escrito para todos aqueles que buscam conhecimentos e compreensão desta cultura em contínua evolução.

O fenômeno dos Sounds Systems de Reggae (também conhecidos como Sounds) é algo que há intrigado a muitos observadores na Jamaica e em todo o mundo há décadas. Em nenhum outro lugar do mundo poderia haver sido criada uma cultura que se mova tão rápido como os Sound Systems. Começaram como um movimento “underground” na indústria do Reggae jamaicano, mas os Sound Systems ascenderam até chegar a ser uma parte integrada na cultura do Reggae. De fato, as raízes do Dancehall Reggae podem ser traçadas a partir da formação dos Sounds Systems locais e nacionais conhecidos (alguns há mais de 30 anos).

O que compõe uma Radiola/Sound System?

As pessoas normalmente se surpreendem pela quantidade de apoio e componentes que se integram dentro de uma Radiola. Ainda que não haja uma composição preestabelecida, uma Radiola ideal é formada por: DJ’s, no Maranhão, na Jamaica teremos o Selector (Selektah), ou MC (Micro Chatter) que é o DJ, o dono ou administrador (Magnata ou Radioleiro), os técnicos, apoio móvel e de segurança, equipamentos, os seguidores da Radiola... e finalmente os não menos importante, os discos e os dubplates na Jamaica e em quase todo o mundo. No Maranhão temos os disquetes de MD gravados direto do vinil ou de CDs.

É importante notar ainda que não todas as Radiolas tenham todos estes componentes e alguns deles são imprescindíveis; por exemplo, uma Radiola sem DJ’s ou Selektah ou sem discos é como um televisor sem eletricidade, não funciona. Também é importante dar-se conta de que alguns papéis podem ser compartidos; assim, por exemplo, o Selektah pode ser ao mesmo tempo o DJ/MC e o proprietário da Radiola (o caso de Natty Nayfson em São Luis). Geralmente distinguimos três tipos de Radiolas: as caseiras com suas baianinhas, as amadoras normalmente atuantes em pequenas festas e as profissionais (Black Power, Natty Nayfson, Itamaraty, Estrela do Som, Rebel Lion,.etc.,), normalmente com 4 paredôes e com três equipes diferentes, a exempla da Radiola Itamaraty com os DJ’s Roberthanco, Bacana e Jean Holt que comandam as três Itamaraty em festas distintas em diversos lugares de São Luis e do Maranhão.

O Selector/Selektah

Provavelmente, o Selektah é um dos papeis mais importantes em uma Radiola no estilo Jamaicano. O imenso conhecimento e habilidade que se necessita para esta função (ao fim e ao cabo se queres ser bem considerado) e a dificuldade desta posição é muita vezes subestimada. Um bom selektah tem que conhecer centenas de discos e CD’s (incluindo os nomes dos artistas e sua localização na caixa) dentro de sua cabeça.

Por os discos em uma ordem e de maneira que apeteça as pessoas que os está escutando requer um alto nível de diligencia. Um selektah tem que ser hábil para fazer uma transição discreta de um disco ao seguinte (mixar). Estas habilidades que a menudo demoram anos em adquirir-se, mas chega a fazer com tanto o estilo que o encadeamento das músicas muitas vezes passa despercebidos. Um mal selektah, por outro lado, pode ser facilmente descoberto, e uma multidão descontente normalmente não duvidará em fazer manifesta sua desaprovação.

O DJ ou Mic Chatter (MC)

O DJ ou MC é a mão direita do Selektah e vice-versa. Ele é o responsável de introduzir os discos que tocam, de animar o público (criando vibração), de motivar-la a que participem cantando as canções populares e de pedir que o disco seja parado e posto outra vez imediatamente (também conhecido como “forward” ou “wheel” na Jamaica e no Maranhão é a famoso “toca de novo”). As obrigações do DJ/MC na festa são maiores que as de um MC em espetáculo ao vivo – voltando a por imediatamente os discos coincidindo com os pedidos do público. A multidão - a Massa regueira, aqui no maranhão vai normalmente ao móvel da Radiola e pede sua música; Já na Jamaica e Europa ele faz o “forward” ou “Wheel” mediante gritos, chiados, cantos, assobios, levantando seus isqueiros e mantendo-os acendidos no ar, dando golpes nas paredes, acendendo fogos, usando buzinas, ou inclusive simulando uma pistola com suas mãos no ar (chamados gun salutes).

O DJ/MC, além disso, deve anunciar os próximos eventos em que estará tocando, fazer piadas, tentar acalmar a multidão em caso de brigas e em alguns casos, fazer comentários com conteúdo político.

Em um Sound Clash (um grande encontro de DJ’s,) o papel de um DJ é, todavia, mais crucial. Aqui é o responsável de provocar verbalmente a seus oponentes (de outras Radiolas/Sounds) insultando-os (a isto se chama toasting), ou explicando piadas desconcertantes que possam ser verdade ou não (também chamadas drawing cards). Há alguns anos deixou-se de se fazer isso no Maranhão, antes os DJ’s diziam “vou passar por cima da seqüência de fulano” e faziam outras provocações de modo a fazer que a cada pedra o público ficasse ao lado de um ou de outro pela a melhor seqüência de pedras. Isso criava um clima saudável de disputa que animava bastantes as festas e servia de comentário durante a semana entre os fãs de Radiolas ou de DJ’s. Infelizmente esse costume foi abandonado pelos DJ’s do Maranhão.

Outros membros

Além do Selektah e o DJ/MC há muitas outras pessoas atrás da cena assegurando se de que a som funcione com a devida qualidade. O proprietário ou magnata (Radioleiro), que está a cargo de designar as tarefas de todos os outros membros. Esta pessoa é responsável também de buscar os contratos e registrar as datas para as atuações da Radiola/Sound. Os técnicos têm o trabalho de montar os componentes elétricos e assegurar-se de que todo soe perfeitamente. Se surge algum problema com o som antes, durante ou depois do evento, é trabalho do técnico concertá-lo. Os encarregados do translado (The moving staff ou "box bwoys" na Jamaica, aqui são os “carregadores de caixas” ou “Carregadores de Radiola”) se encarregam de transportar e colocar todo equipamento na posição adequada.

Os Fãs ou Sound Followers

Os seguidores ou fãs sãos os que fazem verdadeiramente a festa. Estes seguem a Radiola/Sound da mesma maneira que uma congregação segue uma igreja em particular. Os seguidores da Radiola/Sound assistem aos eventos onde esta atua, colecionam fitas cassetes, mixtapes, discos, CD’s e apóiam sua Radiola preferida durante um Sound Clash. Ainda que muitos fãs sejam seguidores ocasionais de uma Radiola, há outros que levam isto muito a sério. Estas crews ou massives (Massa Regueira), apóiam a Radiola de tal maneira que muitas vezes seu nome chega a ser sinônimo da Radiola em se mesmo (Pinto da Itamaraty, Luis Black Power, Luisinho Black System, Natty Nayfson, etc). Ter reconhecimento no microfone (bigged up), nos eventos em que a Radiola está fazendo sua apresentação, entrada para tais eventos, uma camisa, popularidade e respeito, um sentimento de orgulho regueiro quando sua radiola ganha um Clash (disputa ou encontro), ou simplesmente um sentimento de identificação com algo, são alguns dos muitos motivos de seu apoio.

Na Jamaica as duas Radiolas/Sounds mais conhecidas e disputadas são as Stone Love e a Love Stone só para citar as mais famosas.

Esperamos que com estas sucintas informações os leitores possam ter uma dimensão do significado das Radiolas/Sounds aqui e na Jamaica, e ver como temos características semelhantes apesar de estarmos distantes milhares de quilômetros um do outro.

Um comentário:

TSelektah disse...

Boa noite.

Sou o autor deste artigo que escrevi há mais de 15 anos, e recentemente republiquei no Blog do Lacuna Tropical.
Pergunta: Porque não colocastes o nome do autor?