quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Elas Estão dominando o reggae


Elas estão tomando conta de um posto que antes era ocupado somente por homens: são as DJs de São Luís que se dedicam a tocar reggae roots. Elas já têm até uma denominação própria, as DJ’ias (deejyêias), batizado pelo regueiro Ademar Danilo. Os exemplos que podemos citar são muitos: Josy D’Jah, Nega Glícia, Cicinha Roots, Rose Black, Macicó e Rose Bombom que, com muito talento, procuram agradar os amantes das “pedras” que rolam nos salões de reggae de São Luís. A precursora desse movimento foi Nega Glícia que se tornou DJ meio que por acaso. Como já trabalhava com produção cultural e acompanhava Andrezinho Vibration em suas apresentações, encontrou no reggae uma maneira de divulgar suas idéias e lutar por aquilo que acredita. “Eu não vejo o reggae somente dessa forma lúdica como muitos o vêem; pelo contrário, é uma forma de lutar por um movimento, de respeitar minha raiz, de passar uma boa mensagem. Quero botar uma música e fazer com que as pessoas pensem no que estão ouvindo, é uma maneira de conscientização”, diz Nega Glícia.
A sua estréia foi há três anos e, no início, enfrentou muita discriminação por parte de outros DJs de reggae roots da cidade. “As pessoas perguntavam se eu era a mulher de Andrézinho Vibration. Quer dizer que pra eu tocar eu tinha que ser mulher de alguém? Não poderia chegar lá por conta própria?”, questiona. Mesmo assim, Nega Glícia não desistiu e insistiu no ofício que tem rendido bons frutos. As seqüências da DJ são conhecidas por ter muito reggae nacional, algo que ela sempre privilegiou. “Eu recebo muito material de outros estados, estou sempre em contato com bandas de todo o Brasil. As pessoas que conhecem meu trabalho já me indicam”, conta.
Engajada socialmente, Glícia encontrou no ritmo jamaicano uma maneira de tratar de assuntos sérios, como desigualdade social, Doenças Sexualmente Transmissíveis, entre outros. “Na periferia as pessoas curtem muito reggae, então quando tem uma palestra, solto uma seqüência que, com certeza, já vai animando a galera. Quero fazer um trabalho diferente”, diz a DJ.
Seguindo o mesmo caminho está Josy Dominici, que é conhecida no mundo do reggae pelo nome artístico de Josy D’Jah. O ritmo jamaicano sempre esteve presente em sua vida, por influência dos pais. Aos poucos foi colecionando muitas músicas, algumas garimpadas da internet e outras obras raras que descobriu em sua própria casa. Há dois anos, conheceu o DJ Ademar Danilo que, impressionado com o rico material de Josy, a convidou para tocar no Roots Bar.
“Eu fiquei muito nervosa e preocupada com o que o pessoal iria achar. No começo algumas pessoas reclamaram, mas depois curtiram muito a minha seqüência”, recorda Josy D’Jah. Os motivos das reclamações, segundo ela, foram dois: o fato de ser uma mulher e ser nova – ela tinha apenas 22 anos. “As pessoas estranharam, tive que vencer esses dois preconceitos, até porque era só homem que botava o som, mas hoje está tudo tranqüilo, as pessoas respeitam e gostam da música que coloco”, diz.
A origem do material continua sendo a internet e conta ainda com a ajuda de outros DJs. “Nunca tive problemas com outros DJs, pelo contrário, eles sempre ajudaram, inclusive emprestando material”, conta. Para suas apresentações, Josy vai munida de 20 MDs, contendo cada um uma média de 25 músicas. Suas seqüências são conhecidas por ter poucas falas e muito reggae roots.
“Eu procurei ser autêntica e fazer um som que se diferenciasse dos outros. Antes de eu ser DJ, sou público, também procuro pensar em canções que irão agradar as pessoas, para que elas dancem e curtam o som. Boto aquilo que gosto de ouvir”, define.
Tem gente boa iniciando também. É o caso de Cicinha Roots, que há dois meses, quando estava no Mr. Frog, disse para o DJ Mad Marley que adoraria fazer discotecagem roots. “Disse de forma despretensiosa e no fim de semana seguinte ele me convidou para tocar. Fiquei muito feliz e não consegui parar mais”, diz Cicinha Roots.
Logo na estréia, a DJ agradou ao público. “Acho que meu foco, que é o reggae nacional, despertou algo nas pessoas e foi isso que me fez continuar. A sensibilidade das mulheres faz com que a gente sinta o que o pessoal quer curtir e isso só nos ajuda”, conta.
O importante para ela é que as mulheres conquistem mais espaço na discotecagem. “É um espaço que está sendo conquistado aos poucos, mas que já tem um destaque. O pessoal tem recebido muito bem a idéia”, fala. “A intenção não é ser só uma ‘DJ de saia’. Queremos fazer a diferença, mostrar que podemos fazer um trabalho consciente e com conteúdo”, endossa Nega Glícia


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