Muito do que o Reggae é hoje deve-se ao fato dos skinheads o terem adotado como seu próprio som.
Muitos irão torcer o nariz e fazer cara feia com essa informação. Mas Skinhead ouvindo som de negro ? é o que a maioria se indaga quando ouvem um som do gênero que entonam o coro Skinhead em suas letras. Muitos pensam tratar-se de algo contra, mas quando param para prestar atenção na letra percebem que não só muitas músicas foram feita falando dos skinehads, e sim para eles. Já que a onda do Skinhead Reggae estava tão em alta, os artistas negros enxergavam neles públicos fiéis e loucos para gastar uns trocados por novidades do Reggae. O que de fato era verdade.
O reggae estava despontando na cena britânica devido à curtição dos skins. A imprensa musical e as rádios não davam grande apoio, até desdenhavam o gênero por ser "cru" e "simples". Chegavam a chamar de "yobbo Music" (música de mongoloide), justamente pela conexão com a cultura skinhead.
Aquilo era um círculo vicioso, pois sem a cobertura da imprensa e sem tocar nas rádios, as lojas de discos não encomendavam e, portanto, a música nunca aparecia nas listas de mais vendidos.
E como algumas estações, particularmente a Radio One, baseavam sua programação na colocação das músicas como reflexo da preferência do público, o reggae raramente figuraria como "popular". Os dois únicos programas dedicados ao gênero eram o "Reggae Time" da BBC de Londres e o "Reggae Reggae" da Rádio Birmingham. Eram chamados de programas "de minoria", numa época em que os singles de reggae vendiam dezenas de milhares de cópias sem qualquer tipo de promoção.
Isso fez dos salões e dos pontos de venda (que geralmente não passavam de barracas de mercado) os únicos locais onde se podia ouvir os últimos lançamentos. Mesmo os discos que chegavam às paradas como o grande sucesso de Dekker "israelites", passavam meses expostos nos clubes e pubs até alcançarem alguma posição. Mas em 1969 já era tal a procura que os pequenos comerciantes não davam conta. Não demorou para que o som fosse ouvido em locais públicos nos fins-de-semana, até que casas noturnas badaladas, como o Flamingo ou The Roaring Twenties começaram a atender aos fãns de Reggae.
O grande nome do Skinhead Reggae foi a Trojan, uma etiqueta lançada pela gravadora "Island Records" e pela Beat & Commercial Company em 1968. A Island já tinha tradição no mercado de música jamaicana na Grã-Bretanha e chegara ao segundo lugar nas paradas em 1964 com My Boy Lollipop de Milli Small. Mas em 1968 o dono da gravadora, Chris Blackwell, estava mais interessado em transformar a Island em num grande selo do Rock ( o que de fato conseguiram, Hoje a island records abriga artistas como Bon Jovi, Mariah Carey e Sum41, é triste...). Para isso tinha que se livrar da imagem de gravadora especializada em "minoria", e descartou todos os astros do reggae, com excessão de Jimmy Cliff. Já a companhia Beat & Commercial pertencia a Lee Goptal, um comerciante de tino, bem entrosado na música jamaicana. A princípio a B&C trabalhava na distribuição entre a Musicland e as lojas da Music City em Londres, nas áreas de Stroke Newington, Brixton e Shepherd's Bush.
Quando a Trojan se estabeleceu, veio como uma salvação para ambas, pois dava continuidade à política da Island de investir no reggae mais pop comop forma de levar o som jamaicano para além do gueto. As tosquices das gravações de produção mais barata foram contornadas com a adição de cordas e até coros, de modo a torná-las palatáveis ao mercado britânico. Singles promocionais , baladas, versões covers de música pop, tudo valia para abrir o mercado aos produtos da Trojan e suas subsidiárias, garantindo espaço nas rádios e faturando-lhe dezessete hits entre os "vinte mais" no período de 1969 a 1972.
A Trojan também foi das primeiras a vender discos a preço s pormocionais para ampliar o mercado. Coletâneas como as das séries Tighteen Up e Reggae Chartbusters arranjaram seu espaço em um mercado dominado pelos dinossauros do Rock, graças a tais promoções da Trojan.
Com suas mais de quarenta subsidiarias , a Trojan acabou controlando 80% do mercado de Reggae, isso numa época em que cerca de 180 discos de reggae eram lançados por semana. Em termos de Reggae, era impossível rivalizar com ela, mas, apesar de ter alguns de seus astros entre os mais famosos do Showbusiness, o som jamaicano permanecia dentro dos limites do underground. De mais a mais, o gosto dos apreciadores do Skinhead Reggae não coincidia necessariamente com o do consumidor comum, o que gerava distorções do tipo: canções de maciço sucesso nos clubes, que passavam desapercebidas do público em geral e da mídia musical. Para um skin nomes como Pat Kelly e Derrick Morgan significavam muito, tanto, ou mais que um Jimmy Cliff ou Bob Marley.
A única real concorrente da Trojan era a Pama records e sua dúzia de etiquetas subsidiárias. FUndada em 1967, no auge do Rocksteady, pelos três irmãos Palmer, ela incrementou a auntêntica reputação do Reggae, dirigindo seus lançamentos especificamente ao mercado étnico e ao "movimento" skin.
Os produtores jamaicanos, que já não tinham fama de honesto, trataram de explorar a rivalidade entre as duas maiores empresas de Reggae. eles voavam até Londres e assinavam contrato com ambas para os mesmo lançamentos, o que resultava em litígios que culminaram em 1969, quando a Trojan lançou pela Treasure island o celébre Skinhead Moonstomp do grupo Symarip, só para abafar o sucesso do Moonhop de Derrick Morgan, que saíra pelo selo Crab da Pama.
O rolo tinha começado quando Bunny Lee cedeu uma mesma música (seven Letters, de Derrick Morgan) para a Trojan, que a lançaria em sua nova subsidiária "Jackpot", e para a Pama, que a Lançaria pela "Crab". Na hora em que a Pama cronogramava seus melhores lançamentos para sair em função do sucesso de Moonhop, a Trojan melou tudo com uma versão não creditada da dita cuja, que não era outra senão a manjadíssima Skinhead Moonstomp, interpretada pelos Pyramids sob o pseudônimo de Symarip (um óbvio anagrama), a fim de faturar em cima da promoção da concorrente. Ironicamente, Skinhead Moonstomp é reconhecido hoje como um clássico do Reggae Skin, enquanto o original Moonhop caiu no esquecimento. o mais chato de tudo é o fato de que Bunny lee é cunhado de Derrick Morgan.
Casos como esse iam sujando a barra da música jamaicana. Na verdade, a própria Moonhop de Derrick Morgan era baseada em outra canção, chamada I Thank You, que tinha sido lançada por Sam & Dave, uma dupla de Soul de Memphis. Quanto aos Pyramids, uma banda de estúdio que topava qualquer parada, estavam acostumados a gravar sob pseudônimo. Na mesma época tinham saído discos deles como "The Alterations", "The Red Bugs" e "The Rough Riders"
Tanto a Trojan quanto a Pama chegaram a produzir seu material na Grã-Bretanha, às vezes com músicos de estúdio brancos e vocalistas jamaicanos. Laurel Aitken , um dos recordistas de vendas da Pama, costumava dizer que só dava ele de negro no estúdio quando era gravado um reggae.
Claro que Skinhead Moonstomp não foi o primeiro nem o último disco de Reggae a celebrar seus próprios fãs Skinheads. Os mesmos Pyramids aproveitaram a onda para faturar outras canções em cima do tema, sob o nome fantasia de Symarip, como o clássico Skinhead Girl, e a Skinhead Jamboree. Algumas canções eram excelentes, outras pavorosas.
A atração dos skinheads pelo reggae se devia ao ritmo contagiante da música. As letras pouco importavam, já que a maioria não sacava os significados das gírias jamaicanas. Israelites de Desmond Dekker pode ter vendido oito milhões de cópias pelo mundo, mas se você perguntar a meia dúzia de caras o que a letra quer dizer, você terá meia dúzia de respostas diferentes. Por isso mesmo as faixas instrumentais tinham tanta popularidade quanto os números vocais: o essencial estava no som.
Toda essa proximidade da cultura britânica com a cultura jamaicana propiciou uma harmoniosa convivência onde garotos brancos e ngeros dançavam a noite inteira juntos sem o menor problema. Até que a paz se acabou. Num clube jovem do sul de Londres, a resposta de alguns idiotas à canção "Young Gifted and Black" (Jovens, talentoso e Negro) de Bob andy & Marcia foi cortar os fios do alto falante e entoar um coro contrário, dizendo "Young Gifted and White"(Jovem Talentoso e Branco). No começo de 70 , o reggae perdia um pouco de seu charme junto aos garotos brancos. A mudança de rumo das letras em direção à Babilônia, JAH e outros temas africanos, deixou muita gente a ver navios, e mais uma vez o som foi ficando confinados nos guetos das colônias jamaicanas. E o que seria a veradadeira raíz do reggae ficou esquecida, e muitas vezes ridicularizada por alguns que a chamam de "crua" e "simples".
Fonte: A Bíblia dos Skinheads
Transcrição e adaptação: Greg
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
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