quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Joseph Hill 1949-2006


O cantor e compositor Joseph Hill, líder do influente grupo Culture, é mais um personagem importante na história do reggae que se foi em 2006. Nascido no dia 22 de janeiro de 1949 no interior da Jamaica, Hill teve sua primeira oportunidade no Studio One, como a maior parte dos artistas de sua geração. O primeiro compacto solo foi “Behold the land”, gravado no lendário estúdio de Coxsonne Dodd com o grupo residente Soul Defenders, onde Hill também tocava percussão. O Culture, chamado primeiramente de African Disciples, foi formado logo depois, em 1976. Era composto por Joseph Hill, seu primo Albert “Ralph” Walker (que, segundo Hill, foi quem primeiro teve a idéia de formar o grupo) e Kenneth Paley. O trio vocal gravou seus primeiros compactos para Joe Gibbs e depois para Sonia Pottinger (do selo High Note, herdeiro do lendário estúdio Treasure Isle).
O Culture ganhou notoriedade graças a “Two Sevens Clash”, composição de Hill baseada livremente em uma profecia de Marcus Garvey. A letra advertia que coisas terríveis iriam acontecer no dia sete de julho de 1977 (07/07/77), se valendo da antiga simbologia em torno desse número e acrescentando a ela o milenarismo rastafariano (os rastafaris pregam que serão salvos no Juízo Final previsto no Livro das Revelações, que fecha a Bíblia). No dia anunciado pela música, várias lojas e escolas não abriram e boa parte dos habitantes da Jamaica ficou em suas casas, esperando pelo pior. Pelo que se sabe nada de grave aconteceu, mas o trio acabou chamando a atenção da imprensa jamaicana e britânica (o que colaborou também para difundir as crenças rasta), além de atrair a simpatia do movimento punk, que naquela época mantinha uma relação estreita com o reggae. Tanto que, logo depois de acabar com o Sex Pistols, o vocalista John Lydon trabalhou por algum tempo para a gravadora inglesa Virgin, chegando na Jamaica em 1978 para selecionar alguns artistas que fariam parte do selo Front Line, especializado em reggae. O Culture seria um dos primeiros a assinar um vantajoso contrato com a Virgin e se beneficiar da distribuição internacional de seu trabalho. No entanto o falecimento de Bob Marley, em 1981, causou um retrocesso no caminho da difusão do reggae e uma das “baixas” foi o selo virginiano.
Tal situação acabou fazendo com que o trio se separasse entre 1982 e 1986, mas foi um período curto se comparado com os 26 anos em que estiveram juntos, sempre tocando com a nata dos instrumentistas jamaicanos e se estabelecendo como um dos mais produtivos grupos vocais da Jamaica. Depois da pausa o grupo voltou com um som mais moderno, embora ainda centrado nas mensagens rastafari e sem se adaptar totalmente ao dancehall, que já dominava as paradas da ilha. Até o fatídico 19 de agosto, quando Joseph Hill teve um colapso na Alemanha que tirou sua vida, lançaram 22 álbuns originais, dois de dub e um ao vivo por gravadoras importantes como a Ras Records, Shanachie, VP e Heartbeat. O Culture se manteve como um dos mais respeitados representantes do roots reggae, se apresentando sempre com muito sucesso em todo o mundo, inclusive no Brasil. As performances dinâmicas e elétricas de Joseph Hill deixavam a todos boquiabertos, se perguntando onde ele conseguia tanta energia. Hill e seus companheiros de Culture eram bem-sucedidos em unir as mensagens do rastafarianismo com o domínio completo das harmonias vocais, chegando a um estilo musical que, ao mesmo tempo em que elevava o ouvinte espiritualmente, o fazia pensar e também se movimentar ao som do reggae.

O Culture faz parte da história afetiva de muitos reggaeiros. Por exemplo, era com o hino “Jah Rastafari” (do álbum “Nuff Crisis”, de 1988) que a Radiola Sound System, costumava abrir suas apresentações em Belo Horizonte no início dos anos 1990. Fauzi Beydoun conviveu com Joseph Hill e lembra com saudade da sua vinda ao Brasil, quando este passou pelo Maranhão. O cantor também fez um breve mas marcante depoimento para a apresentadora e diretora Carolina Sá no documentário “Música Libre”, veiculado em 2003 na TV à cabo brasileira. Nele o espirituoso rastaman diz: “Existe uma batida no reggae que ninguém pode tocar. Só é percebida por músicos inspirados”. Quando a apresentadora pergunta que batida é essa, ele responde rindo: “Não posso dizer. Você mesma tem que ouvir”. Para manter o legado de Joseph Hill, os integrantes do Culture resolveram continuar, substituindo o vocalista e líder por seu filho, Kenyatta. Estiveram no Brasil recentemente se apresentando com essa formação.
Um tributo oficial com fotos, depoimentos e clipping com notícias sobre seu falecimento em alguns dos principais veículos da imprensa, pode ser visto em http://www.consciousparty.com/joehilltributebook.html. Nele está anunciado um show gratuito em sua homenagem, que foi realizado em Kinston no dia 06 de setembro com a participação de artistas como U Roy, Big Youth, Lloyd Parks, Josey Wales, Bob Andy, Luciano, Anthony B, Tony Rebel, entre muitos outros. A valiosa contribuição de Joseph Hill para a música jamaicana e mundial jamais será perdida, pois sua memória estará sempre viva para todos os que tiveram o privilégio de estar na sua presença, assistir a um de seus shows ou mesmo escutar a um dos inúmeros clássicos imortalizados nas gravações e vídeos por ele registrados. Obrigado Culture man!

Discografia de Joseph Hill e do Culture (Álbuns)

* Two Sevens Clash (Joe Gibbs)
* Baldhead Bridge (Joe Gibbs)
* Africa Stands Alone (April Records)
* More Culture a.k.a. Innocent Blood (Joe Gibbs)
* Harder Than The Rest (High Note)
* Culture Dub a.k.a. Culture In Dub (High Note)
* Cumbulo (High Note)
* International Herb (High Note)
* Lion Rock (Sonic Sounds)
* Culture At Work (Blue Mountain)
* Culture In Culture a.k.a. Peace And Love (Music Track)
* Nuff Crisis (Blue Mountain)
* Good Things (Sonic Sounds/RAS)
* Three Sides Of My Story (Shanachie)
* Wings Of A Dove (Shanachie)
* Trod On (Heartbeat)
* One Stone (RAS)
* Stoned (RAS)
* Trust Me (RAS)
* Cultural Livity - Live Culture '98 (RAS)
* Payday (RAS)
* Humble African (VP Records)
* Scientist Dubs Culture Into A Parallel Universe (RAS)
* World Peace (Heartbeat)

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