sábado, 2 de fevereiro de 2008

Gregory Isaacs


Os amigos o chamam de Jó e de Saddam Hussein, porque muitas vezes ele lutou só contra o mundo. Bob Marley o chamava de Dente (Tooth). Os que admiram o jeito manhoso dele dizer a uma mulher que ela está no seu "Top ten" o chamam de Cool Ruler, o calmo soberano. Mas Gregory lsaacs é muito mais do que tudo isso: ele é A Voz do povo jamaicano.

Gregory Isaacs nasceu em 1950 no bairro de Fletcher's Land, em Kingston. Desde menino trabalhou duro, acumulando uma extensa lista de profissões que incluiu temporadas como marceneiro, tratador de cavalos, eletricista e pintor de painéis e cenários teatrais. Segundo seus velhos amigos, ele foi o primeiro a ter um carro e a montar uma loja de discos entre os jovens da vizinhança. Vizinhança que também abrigava algumas estrelas de primeira grandeza do showbizz jamaicano, como o 'Mr. Rock Steady' Ken Boothe, o trio The Melodians e o melodioso Slim Smith. O jovem Gregory freqüentava os ensaios de todos eles e ainda ouvia atentamente às vozes de Sam Cooke e Brook Benton que chegavam pelo rádio. Foi a partir dessas influências que ele forjou seu estilo único, mixando a malemolência jamaicana com o vocal inspirado da soul music.

No início dos anos 70 ele iniciou sua vitoriosa carreira solo trabalhando com alguns produtores considerados na Jamaica, como Alvin Ranglin e Rupie Edwards. Mas sua busca por independência o levou a fundar um selo próprio de gravação, o African Museum, também o nome da sua loja e quartel-general. Foi o auge da carreira do Cool Ruler, quando apareceu no clássico filme "Rockers", com direito a uma performance inteira filmada, da música "Slavery Days". O selo próprio não o impediu de gravar com outros destaques da cena musical, como Lee Perry e Sly & Robbie. Com eles Gregory lsaacs realizou algumas das obras-primas que consolidaram sua identificação com o público.Sua enorme popularidade na pátria do reggae só se compara à que alcançou em terras brasileiras, mais precisamente no Maranhão, onde se apresentou ao lado da banda Tribo de JAH em 1991. A passagem de Gregory Isaacs por São Luís do Maranhão foi atribulada. Ele veio sem a sua banda e fez uma apresentação na base do playback que não agradou em nada o exigente público da Ilha do Amor. Os organizadores prometeram um segundo show e a Tribo de Jah foi chamada para tocar com ele. Mas Gregory tinha um show marcado em Trinidad Tobago e tentou ir para lá entre as duas apresentações de São Luís, mas foi impedido pela polícia, porque os organizadores não haviam pago o hotel em que ele estava hospedado. O show com a Tribo acabou se realizando e foi um grande sucesso.

O complicado arranjo do jogo amoroso é certamente o tema mais explorado por Gregory, destacando-se a vasta porção dedicada aos dissabores e pequenas alegrias da solidão. Mas a realidade jamaicana e a força da mensagem rasta também têm seu lugar em canções como "The Border", "Mr. Cop" e "Opel Ride". A crueza da vida nas ruas também não é estranha a Gregory lsaacs: "Quando se vive sob certas condições, tudo pode acontecer a você", conforma-se. Assumindo seu lado Bezerra da Silva, ele confirma que já fez meia centena de ‘passeios de Opel', marca dos carros de polícia na ilha: "Quase sempre por dirigir sem licença ou posse de ervas ilegais", esclarece. Nessa hora uma pequena multa resolve o problema, mas nos casos de porte de arma a coisa é mais séria. As rígidas leis jamaicanas sobre armas de fogo já o botaram no xadrez por alguns meses. Mas Gregory se defende: "Quando te acusam uma vez por porte de arma e você é culpado, é fácil para eles acusarem você outra vez e mais outra por isso e mesmo sendo inocente ninguém acredita. Não lido com o crime". Gregory conta ainda que os policiais costumam provocá-lo e às vezes tentam extorquir alguma grana.

Na prisão ele conviveu com todo o tipo de gente, estudou bastante e passou em revista a sua vida. Acabou por transformar essa experiência em novos clássicos do reggae, como "Days of Penitentiary", "Condemned" e muitos outros e celebrou sua saída da penitenciária no disco Out Deh!.

Os problemas com a polícia e o envolvimento com drogas mais pesadas nos anos 80 deram margem a todo tipo de boato. Gregory conheceu então o pior lado da popularidade: "As pessoas em geral adoram falar mal de quem não conhecem e não conseguem entender. Elas sempre acreditam no mal que lhes contam e duvidam do bem. Quanto às drogas, são as armas mais devastadoras. Foram o maior erro que cometi".

Este bem de que alguns duvidam está, por exemplo, na forma como Gregory ajuda sua comunidade. Os moradores do gueto o procuram a toda hora com diversos pedidos: "Grande parte do que ganho com meu trabalho serve para ajudar a todas essas pessoas que precisam de assistência. Por isso a maior alegria para mim é a festa anual que fazemos no Orfanato de Maxfield no dia 7 de janeiro. Meus garotos e outras crianças da comunidade juntam cadernos, pincéis e materiais e doam para eles. Já doei um carro e várias cadeiras de rodas. Se estou vivo até hoje é porque procuro fazer o que é certo". Gregory também cumpre sua obrigação de amparar os filhos que teve com várias mulheres. Sua sintonia com o homem jamaicano é total: "Eu represento o povo. Fazer o povo feliz é me fazer feliz", conclui.

O homem das mil faces que se recusa enquadrado pela sociedade parece ter amadurecido. Continua a trabalhar febrilmente, mas sem cair nas armadilhas que muitas vezes seu estilo de vida lhe pôs pelo caminho. Seja o Gregory sedutor ou o solitário, seja o solidário ou o malandro, seja o formiga ou o cigarra, será sempre lembrado como um dos grandes responsáveis pela excelência da musical arte jamaicana.

O Retorno de Gregory ao Brasil:

Histeria em São Luís!!! Se existe um artista de reggae que seja popular no Brasil, ele é, sem dúvida, GREGORY ISAACS! Fiquei impressionado ao saber da reação das dez mil pessoas que lotaram o Grêmio Recreativo Português Litero, no dia 5 de dezembro de 1998, as quais se acotovelavam desde às 8 da noite para aguardar a estrela da noite, ao embalo das radiolas Itamaraty(Pinto), FM Natty Naifson e Rebel Lion. O delírio começou quando Lloyd Parks e sua lendária We The People Band, por volta das 1 e 45 da manhã, detonaram 45 minutos ininterruptos instrumentais e canções famosas do melhor "roots 'n' culture", Sem dúvida, a banda merece os parabéns!

O veterano GREGORY foi anunciado pelo produtor Pinto, e ovacionado durante uma introdução feita pela banda, um medley com os maiores sucessos do cantor, e imediatamente o público de São Luís entrou em histeria geral, a galera enlouqueceu de felicidade e emoção! Várias pessoas rindo e chorando ao mesmo tempo, ao som de "Love is Overdue", Night Nurse", "Day O", "Sooner or Later", entre outras pérolas. Um show magnífico de 60 minutos, com direito à participação de Gregory Isaacs cover (grupo de São Luís) e seus bailarinos na última música.
Então, o verdadeiro GREGORY deixou o palco, embalado por novo medley de Lloyd Parks & We The People Band, deixando um rastro da verdadeira realeza e seu triunfo.

Bravo, Mr. Cool Ruler!!!!

Nota: Gregory também esteve em Belém e em Salvador, cidade onde reuniu quase 30.000 pessoas, o maior publico desta turnê. O sucesso foi tão grande que podemos esperar mais visitas dele a terras brasileiras.
By: Ronnie Pedra

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