quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Bob Marley Em Exposição


Bob Marley é um rosto presente em milhares de camisetas, capas de revista, capas de disco, adesivos e outros suportes. Talvez a maioria das mais famosas imagens que conhecemos dele tenha sido captada por Adrian Boot, fotógrafo que acompanhou as turnês e o dia-a-dia de Marley por dez anos. Algumas das principais fotos tiradas por ele, além de outros fotógrafos e artistas foram apresentada na primeira e até agora única exposição da Fundação Bob Marley realizada no Brasil, que aconteceu de 15 a 25 de janeiro de 2001.

Algumas fotos foram retrabalhadas artisticamente, outras mostram momentos de intimidade de Marley, como as peladas que ele jogava no quintal de casa com os amigos, tecendo um quadro vivo e multifacetado do homem e do artista. Logo na entrada tinhamos um grande painel com uma breve biografia de Bob e algumas imagens mais antigas. Em uma ordem mais ou menos cronológica, elas vão desvendando outros tesouros, como as reproduções dos painéis de Neville Garrick, que eram o cenário de uma das turnês internacionais do Tuff Gong. Outras pinturas e reproduções compõem um conjunto de imagens que ficam marcadas em todo admirador da música de Bob Marley e dos Wailers.
É uma exposição que já passou por diversos países, mas somente aqui no Brasil foi produzido como um verdadeiro evento cultural, com shows de bandas de reggae, exibição de vídeos, palestras e um bazar onde o visitante podê comprar discos, revistas, camisetas e outros objetos relacionados ao reggae.
A primeira estadia da exposição no país foi no Centro Cultural da Caixa, no coração do Rio de Janeiro. Foi um grande sucesso de público e atraiu bastante atenção da mídia carioca. A palestra do evento, realizada no dia 25/01, contou com diversas figuras importantes do reggae no Rio, como Da Gama, do Cidade Negra, Nabby Clifford, um dos pioneiros da divulgação do ritmo por lá e Mauro Neves, organizador do Reggae Nec, além de Jacques Tadeschi e Sidam. Foram debatidas várias questões relevantes para o movimento reggae na região, o que pode contribuir para a dinamização das ações por lá.
Coordenado por Filipe Cavalieri, do FestRio, foi um evento que agradou a todos os fãs comprometidos com o reggae e trouxe um novo público para a música de Jah.

Ras Alvim Um Dos Pioneiros do Reggae


Ele começou um movimento na década de 70, mais precisamente em 1977, quando em sua casa Ras Alvim reunia-se com seus amigos Ras Margalho, Jorge Motora, Manassoude e Fernando Ripi. Fernando por sinal foi o primeiro a fundar uma casa de reggae em Belém do Pará chamada de “TOCA do REGGAE”, com todo apoio dos amigos Alvim e Margalho, que ficava localizada na Passagem Secundino Portela, na Marquês de Herval no Bairro da Pedreira, por onde passaram os melhores DJ’s da época tais como: Ras Margalho, Maestro Bernard, Dj Lídio e muitos outros.

Ras Alvim têm sua opinião formada sobre a transformação do reggae, dizendo que hoje em dia muitas pessoas vão as casa de reggae por pura empolgação sem saber de onde vem, o que as canções transmitem, a diferença entre a filosofia rastafari e o reggae, e que a consciência é a peça chave do verdadeiro crescimento reggueiro.

No que se refere ao rastarafismo, Alvim ressalta que existem hoje em dia pessoas que se caracterizam como rastas usando DREADS (uma das características do rastafarismo) que cantam reggae, mas não seguem a filosofia rasta.

Seu vocalista favorito é nada mais nada menos que Bob Marley, “Bob conseguiu ter o dom de ser insubstituível, não morreu está apenas adormecido” – diz ele.

Alvim gostaria que as pessoas que vão as casas de reggae, fossem com a certeza de que o reggae traz a paz, a união, a humildade e principalmente tenham a consciência que o reggae não é somente uma dança, mas sim uma cultura muito bonita, fácil de aprender e difícil de esquecer.

Alvim é um dos responsáveis pelo crescimento do reggae no Brasil, foi ele quem apresentou o ritmo ao dono de radiola “Riba Macedo”, que começou a tocar o reggae entre os forrós e merengues que tocavam em São Luis do Maranhão. Logo o ritmo caiu nas graças dos maranhenses (aliás, o disco que Riba Macedo levou primeiro para o Maranhão foi o “Reggae Frontline”), Ras Alvim é um dos pioneiros do reggae no Brasil, recentemente foi homenageado pela banda Tribo de Jah com a música “pioneiros do reggae” que foi lançada no cd “Guerreiros da Tribo” onde a banda cita o nome dos pioneiros(Rasta Alvim, Ras Margalho, Riba Macedo, Zé Roxinho, Viegas, Natty Nayfson, Chico do reggae e Serralheiro).
Ras Alvim pode ser encontrado todos os dias em sua barraca de discos na praça das Mercês em Belém do Pará. Querendo trocar umas idéias sobre reggae, comprar CD’s e ou LP’s, é só aparecer por lá e falar com o Alvim ou com o seu filho Max Alvim.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Eric Donaldson


Ele é um dos maiores ídolos da massa reggueira do Maranhão e outros estados onde o reggae é a lei. Estamos falando do grande ídolo Eric Donaldson, que completou 60 anos em 2007.

Nascido em 11 de junho de 1947 em Kent Village - Jamaica. Um simples pintor de paredes, incentivado por seus amigos de trabalho que o ouviam cantar durante a labuta, resolveu tentar o ramo da música. O começo não foi fácil, mas ele persistiu. Segundo conta-se, ao pisar no palco do Jamaican Festival Song Competition, Eric Donaldson, até então um simples desconhecido, foi recebido com vaias e insultos. Vale lembrar que, na Jamaica, o termo "quashie", ou seja, caipira, tem um sentido perjorativo fortíssimo. Na segunda parte da música "Cherry Oh Baby", boa parte da platéia já estava de pé e aplaudindo, ovacionando o vencedor deste e de um número incontável de outros festivais ao longo dos anos, Eric Donaldson é Considerado o rei dos festivais da Jamaica, tendo ganhado 5 edições do Jamaica Festival Song Competition com a sua característica voz em falseto. A primeira foi em 1971, com a canção que o lançaria para o mundo do reggae: 'Cherry Oh Baby', que já ganhou inúmeras versões, incluindo uma do UB40 e outra dos Rolling Stones (que viviam a sua fase reggueira na metade da década de 70). 'Cherry Oh Baby' tornou-se um marco da música jamaicana e a voz de Eric Donaldson, marcada para sempre. Tente imaginar, sequer, um cantor que tenha um timbre semelhante ao do "Capelobo".

Donaldson começou a sua carreira em 1964, fundando no ano seguinte o grupo The West Indians, junto com os parceiros Leslie Burke e Hector Brooks. O grupo lançou alguns compactos, inclusive com Lee Perry ('Oh Lord'), mudou o nome para The Kilowatts e gravou para Lloyd 'Matador' Daley, sem sucesso, o que acabou causando o rompimento do trio. Depois de gravar algumas faixas solo, Donaldson se inscreveu no festival já citado com a música 'Cherry Oh Baby' e o venceu.

Parecia que sua carreira iria deslanchar, o compacto da música vencedora vendeu mais de 50000 cópias, passou a gravar com produtores da pesada como Bunny Lee, mas as coisas se encaminharam de modo diferente. Recusando-se a cumprir a rotina estafante das turnes e das gravacoes anuais, Donaldson passou a gravar esporadicamente, sempre com relativo sucesso, voltando a vencer o Jamaica Festival Song Competition em 1977, 1978, 1984 e 1993.

Na década de 90 experimentou uma volta às paradas, com diversas versões para o ritmo de 'Cherry Oh Baby', inclusive uma atualização dele mesmo para a canção que o consagrou. Além do mais, ficou ciente do quanto é amado pelo povo maranhense e de outros estados próximos (sem falar na colônia maranhense no Rio e São Paulo), que dança agarradinho ao som de sucessos como 'Cinderella' e 'Land of my Birth'. Tal popularidade em outro país que não a sua Jamaica natal deve tê-lo surpreendido, mas isso não o impediu de se apresentar em São Luís, com grande sucesso. Algumas de suas pedradas foram lançadas no Brasil na coletânea da gravadora Jamaica Gold - LOVE OF THE COMMON PEOPLE. Ele hoje vive em Kent Village, na Jamaica, onde administra o 'Cherry Oh Baby Go-Go Bar'. Continua fiel ao estilo que o consagrou.

No dia 23 de junho de 2007, Eric Donaldson apresentou-se em um show no ginásio de uma das avenidas mais movimentadas de Belém do Pará, contando com as participações dos dj’s Alex Roots (Belém) e Rubinho Star (Fortaleza), além da Radiola Princesa Negra (Belém) e banda Lunai (Belém). O local contou com a presença também de públicos distintos: A galera que curte reggae eletrônico e a massa que curte as famosas "Pedras da Bolacha", nome dado aos Reggae Roots tirados do vinil. Para contemplar o evento, o ginásio contou com nada mais nada menos que 5.000 pessoas, o que para um ginásio de universidade é excelente!

As pedras começaram a rolar por volta das 22:00h com a radiola Princesa Negra e com os d´j se revezando, metade roots, metade eletrônico, pra agradar à todos. A madrugada chegou, e no palco entra a banda Lunai arrebentando com clássicos do reggae como "To Love Somebody" muito ouvido em Belém na voz da Barbara Jones, e "Harambe", da grande Rita Marley.

Depois de muito reggae de primeira, chega o momento mais esperado da noite. Lançando seu mais novo álbum com novas pedras e regravações de clássicos que marcaram sua carreira em Belém e São Luis, Eric Donaldson sobe ao palco pra delírio da massa regueira do Pará que lotava o salão e as arquibancadas do ginásio da UEPA. Eric começa o show cantado seus maiores sucessos como: "I Need Someone", "Follow Me", "More Love", e "My Love". A explosão aconteceu quando ele cantou suas 3 músicas mais ouvidas pelos regueiros em todos os tempos: A envolvente "Cinderella", "Jah Love" e a que fez o ginásio tremer "No Slave". O Coro formado era ininterrupto e de arrepiar. A galera de Belém está de parabéns pela receptividade, sempre deixando o artista convidado se sentindo em casa.

Tribo de Jah em Macapá pela 2ª vez

Foi numa segunda-feira no dia 06 de setembro de 2006(véspera do feriado do dia da Pátria) o tão esperado retorno da Banda Maranhense “TRIBO DE JAH” à Macapá, considerada a melhor banda de reggae do Brasil. O espetáculo aconteceu na sede do Trem desportivo clube, com inicio às 21:00h.

O show totalmente diferente do 1º foi aberto com a apresentação de artistas locais, como: Banda Leões de Jah, Banda Porto Reggae, Sandra Lima, Projeto: Sarau Sintonia e participação dos DJ’s: Ronnie Pedra & Coelho Roots (que por sinal também tocaram no 1º show da TRIBO DE JAH em Macapá, no estádio GLICÉRIO DE SOUZA MARQUES), a banda entrou no palco por volta da 1:00h. (uma hora da manhã), levando a massa regueira de Macapá ao delírio com muita emoção, lagrimas, transe e tensão. Tudo isso e mais algumas coisas no show mais esperado.

Mais de 2 Horas de reggae empanturrou todo mundo. Fauzy, o vocalista da banda nem conseguia cantar direito, perplexo com a multidão na sua frente cantando todas as músicas da banda, tava muito bonito.

A banda ataca de todos os lados. Ressuscitam clássicos como “POLICE AND THIEVES” de Junior Murvin, na voz agudíssima do baixista Aquiles.

O resgate total fica por conta de Zé Orlando que leva a galera ao delírio quando canta músicas de Alpha Blondy, Bob Marley, Gladiators, Gregory Isaacs e muitos outros. O que mais me impressionou foi à resposta do publico que pedia insistentemente para que a banda tocasse músicas suas, o que foi prontamente atendido pelo vocalista e guitarrista Fauzy Beydoun, mais uma vez a Tribo mostrou que tem um repertorio de pérolas do reggae executando com muita qualidade.

Destaque para o som do ZENOR, muito bem equalizado, e para a reggueira Hellem Samarina, que conseguiu driblar o esquema de segurança, subiu ao palco e dançar agarradinha com Fauzy Beydoun.

Eu só tenho que agradecer a TRIBO DE JAH pelo conserto. Muito obrigado pelo reggae, pelas mensagens de encorajamento para seguirmos em frente, e aos promotores do evento: Mauricio Madrigal, Stanley e José Pessoa, e aos apoiadores do evento (que sem eles nada seria possível), são eles: GSM Turismo, INSULFILMES, TALENTO Comunicação Visual, RAÇA Transportadora, YÁZIGI, CAFÉ AYMORÉ, restaurante NORTE DAS ÁGUAS, Hotel MACAPÁ, Auto Escola SÂO CRISTOVÂO e TAPEÇARIA MACAPÁ.

THANKS JAH !!!

By: Ronnie Pedra


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Jackie Brown

Dizer que Jackie Brown é um clássico parece até redundância. O problema é que o reggae no Brasil se desenvolveu de formas diferentes. De um lado, por incentivo das grandes gravadoras (EMI, Universal, Virgin, etc), que trouxeram o reggae para as lojas do Brasil (e até Bob Marley para uma aparição pública afim de propagar a música jamaicana no mercado brasileiro). Porém, o mercado selecionou um número limitadíssimo de cantores para apresentar aos ouvidos do Brasil (Além de Bob, Jimmy Cliff, Eddy Grant, UB40, Third World, Alpha Blondy, etc). Artistas que, trocando em miúdos, não representam tão bem a musicalidade original jamaicana. Por outro lado, o reggae entrou de maneira bem mais informal e marginal no Norte/Nordeste do país. Por meio de contrabando (via Cayena) chegou até Belém e São Luís, certa vez, alguns discos jamaicanos vindo junto de lotes de discos caribenhos (mambo, salsa, etc) destinados à festas de musica latina e popular, as radiolas. No começo não se sabia bem o que era aquilo, mas com o tempo São Luis fez do reggae parte integrante da cultura popular. Sem o amparo do mercado (ainda bem), os maranhenses puderam pegar os mais diversos discos, livremente. E aí, o reggae aconteceu por si só. Sem depender de mídia de massa, programas de auditório, etc. Logo vieram, então, os clássicos, não aqueles que o comércio impõe (e que os críticos chatos defendem), mas os preferidos de gente simples, que tem por critério a capacidade da música de tomar o corpo e fazer dançar.

Cerca de 4 mil pessoas esperavam ansiosas no aeroporto para ver, pela primeira vez em São Luís, Jackie Brown. Ele sequer acreditava que aquelas pessoas estavam ali pra lhe ver, mas o sucesso foi confirmado com os shows pelo estado, arrastando, às vezes, 20, 25 mil pessoas. A maioria, seduzida pela encantadora voz de Jackie, um meio termo entre a sonoridade do Calypso/Mento, a formação gospel e, ainda, a influência do Soul.

O cd foi lançado (não-oficialmente) no Brasil. Na verdade, é uma coletânea feita pelos maranhenses Jofran e Jr Black vendida em poucos lugares, deixando dúvidas sobre o respeito aos direitos fonográficos. Mesmo assim, a seleção não podia ser melhor, traz alguns dos grandes sons de Jackie da década de 70.

By: Canuto Lion

Toots And The Maytals

Entre tantos nomes do Early Reggae que permanecem na ativa, Toots foi um dos poucos que não mudaram seu estilo de tocar, muitos deles passaram a tocar o New Roots, que agrada a grande maioria do pessoal que ouve reggae hoje em dia, que por sua vez agrada as gravadoras que comercializam cada vez mais bandas do gênero, criando assim um reggae pop e moderno.
Esse álbum novíssimo lançado no mês de julho de 2007, de Toots & Maytals é a prova que ele continua fiel ao ritmo swingado cheio de funk e musicalidade que sempre fez, e o que tanto falta nas bandas comerciais de hoje. Inovar na musicalidade como na Faixa de abertura "Johnny Cool man" que incorpora a pegada Blues com a participação especial de Derek Trucks. E a nova versão da música "Premature" do álbum "Reggae Got Soul" com um belíssima voz feminina de Bonnie Raitt. Sem falar na música tributo a Coxsone Dodd, uma versão de Guns of Navarrone.
O álbum contém oito músicas inéditas e dois covers de Ottis Redding "Pain in My heart" e Ray Charles com "I Gotta Woman".
Algumas pisadas de bola como a nova "Don't Bother Me" não chegam tão perto de ser ruim cantada por Toots Hibbert. Não é por acaso que é um dos maiores nomes da música jamaicana ainda na ativa.

Como Obter o Melhor Resultado Na Digitalização de Um LP


Digitalizar um Lp não tem muito segredo. Basta seguir algumas etapas simples. Mas encare a tarefa com realismo: a digitalização de um Lp é um processo relativamente lento e que consome um pouco do tempo livre.
Isso ocorre porque, com freqüencia, você é forçado a interromper a gravação e começar do zero- seja porque a agulha pulou ou porque o volume do PC não foi ajustado corretamente e o som ficou distorcido.
Para evitar esses contratempos, basta seguir algumas dicas. Primeiro, é findamental limpar o disco antes da gravação.
Agora escute o LP inteiro, pelo menos uma vez, antes de começar a gravação. dessa forma você poderá identificar eventuais trechos problemáticos- onde a agulha desliza ou pula. Quando terminar de tocar o LP, observe o estado da agulha. Se ela estiver suja, limpe-a e execute novamente o disco.
repita esse processo até que ao final do disco, a agulha esteja limpa- isso significa que ele já tirou o máximo de sujeira entre os sulcos do disco, ou seja, fisicamente o Lp está na melhor condição. É hora de gravar.
agora o detalhe mais importante é o volume da gravação, que você ajusta no computador. O ideal é gravar o mais alto o possível. Mas cuidado. Acontece que existe um limite. Se a música atingir esse patamar que é identificado pela sigla 0dBFS (zero decibéis digitais), a gravação já era- surge uma distorção fortíssima, que não dá para consertar depois.
Por isso o ideal é regular o volume da gravação para um nível um pouco mais baixo, -6dFBS. Mas como fazer isso ?
Ponha a música para tocar, e observe o valor medido pelo seu software de gravação. Ao mesmo tempo, vá mexendo no controle de volume do Windows.
Lembre-se que a música é dinâmica, ou seja, o volume real varia (quando a banda toca mais alto ou o cantor grita, o volume varia). Por isso é fundamental escuta-la antes de gravar: dessa forma, você identifica os picos de som e ajusta o controle de acordo com eles.
O ideal é que, mesmo nesses picos, o nível de gravação não passe de -6dBFS (depois, conforme você adquire mais prática, pode experimentar gravar mais alto, a -3dBFS).
Após gravar. Dê uma escutada no arquivo para ver se saiu tudo certinho. Se saiu, você pode começar a etapa mais divertida da digitalização de um LP.
É hora de remasterizar o disco, ou seja, melhorar digitalmente o som.
Os softwares de gravação já vem com filtros específicos que prometem eliminar chiados e estalos. Mas ao usa-los tenha bom senso: se forem ajustados para um nível muito alto, os filtros estragam totalmente o som. O ideal é usa-los com moderação- vá experimentando.
Seja qual for o Software escolhido para a remasterização, tenha em mente que mesmo fazendo tudo direitinho, o resultado dificilmente sairá melhor que a encomenda. Remasterização não é trabalho fácil nem para as empresas do ramo. Mas não custa fazer um trabalho descente.


GARATTONI, BRUNO SAYEG. Folha de São Paulo
Adaptação: Greg Fernandes

Discos e agulhas: Como Limpá-los ???



No CD, as informações gravadas ficam protegidas: além de ser feita de alumínio, a superfíce do disco é revestida por uma camada de plástico. Já no LP, a situação é totalmente outra. Além do disco ser feito de vinil, os sulcos ficam completamente expostos- vulneráveis a qualquer poeira, poluição, bactérias, fungos, etc. Por isso a sujeira é, claro, a maior inimiga do LP.
Também existe a estática. Quando LP entra em contato com o envelope de plástico onde é guardado, há fricção - O que gera uma carga elétrica. è a eletricidade estática, que deixa o disco ainda mais sujo: quando está carregado dessa eletricidade, o vinil atrai a poeira em suspensão no ar.
Não tem jeito. Mesmo se você guardar e manusear seus LPs de forma correta, cedo ou tarde eles precisarão de limpezas. mas evitem a todo o custo receitas caseiras de limpeza- elas podem até funcionar a princípio, mas fazem muito mal ao disco.
A medida que menos agride seu bolachão é borrifar um pouca d'água e, em seguida, secar o LP passando, delicadamente e no sentido anti-horário, uma flanela de limpar óculos.
Não é o ideal - o certo seria usar água destilada e um pano especial anti eletricidade estática. Mas ajuda e mal não faz.
Outro método leve, que causa pouco desgaste, é usar uma escova de fibra de carbono. Ela tem centenas de milhares de "fiozinhos", que penetram nos sulcos para varrer a suejeira. E ao contrário das escovas comuns, de nylon, ajuda a descarregar a eletricidade estática do vinil.
uma boa opção é a Audioquest Carbon Fiber Brush. que pode ser comprada em www.needlecdoctor.com (US$20, mais imposto e frete)
Às vezes, quando um disco está muito sujo, é preciso recorrer a um fluido de limpeza - geralmente vendido num kit que inclui a escova. Os fluidos quase sempre, são feitos de álcool isopropílico com água destilada. Os demais ingredientes não tem muita importância.



Agulha

Para limpar a agulha, o ideal seria utilizar um pincel especial, feito com pelos de marta - mas você dificilmente irá encontrar um à venda hoje em dia. Então uma solução segura é é utilizar um pincel de pintura artística bem fininho, facilmente encontrado em papelarias. Passe o pincel numa linha reta., sempre de trás pra frente - do contrário, você agride o cantilever (suspensão da agulha). Se a agulha estiver muito suja, molhe o pincel em álcool isopropílico - Facilmente encontrado em qualquer farmácia.

A Ligação do Reggae Com Os Skinheads

Muito do que o Reggae é hoje deve-se ao fato dos skinheads o terem adotado como seu próprio som.
Muitos irão torcer o nariz e fazer cara feia com essa informação. Mas Skinhead ouvindo som de negro ? é o que a maioria se indaga quando ouvem um som do gênero que entonam o coro Skinhead em suas letras. Muitos pensam tratar-se de algo contra, mas quando param para prestar atenção na letra percebem que não só muitas músicas foram feita falando dos skinehads, e sim para eles. Já que a onda do Skinhead Reggae estava tão em alta, os artistas negros enxergavam neles públicos fiéis e loucos para gastar uns trocados por novidades do Reggae. O que de fato era verdade.

O reggae estava despontando na cena britânica devido à curtição dos skins. A imprensa musical e as rádios não davam grande apoio, até desdenhavam o gênero por ser "cru" e "simples". Chegavam a chamar de "yobbo Music" (música de mongoloide), justamente pela conexão com a cultura skinhead.
Aquilo era um círculo vicioso, pois sem a cobertura da imprensa e sem tocar nas rádios, as lojas de discos não encomendavam e, portanto, a música nunca aparecia nas listas de mais vendidos.
E como algumas estações, particularmente a Radio One, baseavam sua programação na colocação das músicas como reflexo da preferência do público, o reggae raramente figuraria como "popular". Os dois únicos programas dedicados ao gênero eram o "Reggae Time" da BBC de Londres e o "Reggae Reggae" da Rádio Birmingham. Eram chamados de programas "de minoria", numa época em que os singles de reggae vendiam dezenas de milhares de cópias sem qualquer tipo de promoção.
Isso fez dos salões e dos pontos de venda (que geralmente não passavam de barracas de mercado) os únicos locais onde se podia ouvir os últimos lançamentos. Mesmo os discos que chegavam às paradas como o grande sucesso de Dekker "israelites", passavam meses expostos nos clubes e pubs até alcançarem alguma posição. Mas em 1969 já era tal a procura que os pequenos comerciantes não davam conta. Não demorou para que o som fosse ouvido em locais públicos nos fins-de-semana, até que casas noturnas badaladas, como o Flamingo ou The Roaring Twenties começaram a atender aos fãns de Reggae.

O grande nome do Skinhead Reggae foi a Trojan, uma etiqueta lançada pela gravadora "Island Records" e pela Beat & Commercial Company em 1968. A Island já tinha tradição no mercado de música jamaicana na Grã-Bretanha e chegara ao segundo lugar nas paradas em 1964 com My Boy Lollipop de Milli Small. Mas em 1968 o dono da gravadora, Chris Blackwell, estava mais interessado em transformar a Island em num grande selo do Rock ( o que de fato conseguiram, Hoje a island records abriga artistas como Bon Jovi, Mariah Carey e Sum41, é triste...). Para isso tinha que se livrar da imagem de gravadora especializada em "minoria", e descartou todos os astros do reggae, com excessão de Jimmy Cliff. Já a companhia Beat & Commercial pertencia a Lee Goptal, um comerciante de tino, bem entrosado na música jamaicana. A princípio a B&C trabalhava na distribuição entre a Musicland e as lojas da Music City em Londres, nas áreas de Stroke Newington, Brixton e Shepherd's Bush.
Quando a Trojan se estabeleceu, veio como uma salvação para ambas, pois dava continuidade à política da Island de investir no reggae mais pop comop forma de levar o som jamaicano para além do gueto. As tosquices das gravações de produção mais barata foram contornadas com a adição de cordas e até coros, de modo a torná-las palatáveis ao mercado britânico. Singles promocionais , baladas, versões covers de música pop, tudo valia para abrir o mercado aos produtos da Trojan e suas subsidiárias, garantindo espaço nas rádios e faturando-lhe dezessete hits entre os "vinte mais" no período de 1969 a 1972.
A Trojan também foi das primeiras a vender discos a preço s pormocionais para ampliar o mercado. Coletâneas como as das séries Tighteen Up e Reggae Chartbusters arranjaram seu espaço em um mercado dominado pelos dinossauros do Rock, graças a tais promoções da Trojan.
Com suas mais de quarenta subsidiarias , a Trojan acabou controlando 80% do mercado de Reggae, isso numa época em que cerca de 180 discos de reggae eram lançados por semana. Em termos de Reggae, era impossível rivalizar com ela, mas, apesar de ter alguns de seus astros entre os mais famosos do Showbusiness, o som jamaicano permanecia dentro dos limites do underground. De mais a mais, o gosto dos apreciadores do Skinhead Reggae não coincidia necessariamente com o do consumidor comum, o que gerava distorções do tipo: canções de maciço sucesso nos clubes, que passavam desapercebidas do público em geral e da mídia musical. Para um skin nomes como Pat Kelly e Derrick Morgan significavam muito, tanto, ou mais que um Jimmy Cliff ou Bob Marley.

A única real concorrente da Trojan era a Pama records e sua dúzia de etiquetas subsidiárias. FUndada em 1967, no auge do Rocksteady, pelos três irmãos Palmer, ela incrementou a auntêntica reputação do Reggae, dirigindo seus lançamentos especificamente ao mercado étnico e ao "movimento" skin.
Os produtores jamaicanos, que já não tinham fama de honesto, trataram de explorar a rivalidade entre as duas maiores empresas de Reggae. eles voavam até Londres e assinavam contrato com ambas para os mesmo lançamentos, o que resultava em litígios que culminaram em 1969, quando a Trojan lançou pela Treasure island o celébre Skinhead Moonstomp do grupo Symarip, só para abafar o sucesso do Moonhop de Derrick Morgan, que saíra pelo selo Crab da Pama.
O rolo tinha começado quando Bunny Lee cedeu uma mesma música (seven Letters, de Derrick Morgan) para a Trojan, que a lançaria em sua nova subsidiária "Jackpot", e para a Pama, que a Lançaria pela "Crab". Na hora em que a Pama cronogramava seus melhores lançamentos para sair em função do sucesso de Moonhop, a Trojan melou tudo com uma versão não creditada da dita cuja, que não era outra senão a manjadíssima Skinhead Moonstomp, interpretada pelos Pyramids sob o pseudônimo de Symarip (um óbvio anagrama), a fim de faturar em cima da promoção da concorrente. Ironicamente, Skinhead Moonstomp é reconhecido hoje como um clássico do Reggae Skin, enquanto o original Moonhop caiu no esquecimento. o mais chato de tudo é o fato de que Bunny lee é cunhado de Derrick Morgan.
Casos como esse iam sujando a barra da música jamaicana. Na verdade, a própria Moonhop de Derrick Morgan era baseada em outra canção, chamada I Thank You, que tinha sido lançada por Sam & Dave, uma dupla de Soul de Memphis. Quanto aos Pyramids, uma banda de estúdio que topava qualquer parada, estavam acostumados a gravar sob pseudônimo. Na mesma época tinham saído discos deles como "The Alterations", "The Red Bugs" e "The Rough Riders"

Tanto a Trojan quanto a Pama chegaram a produzir seu material na Grã-Bretanha, às vezes com músicos de estúdio brancos e vocalistas jamaicanos. Laurel Aitken , um dos recordistas de vendas da Pama, costumava dizer que só dava ele de negro no estúdio quando era gravado um reggae.
Claro que Skinhead Moonstomp não foi o primeiro nem o último disco de Reggae a celebrar seus próprios fãs Skinheads. Os mesmos Pyramids aproveitaram a onda para faturar outras canções em cima do tema, sob o nome fantasia de Symarip, como o clássico Skinhead Girl, e a Skinhead Jamboree. Algumas canções eram excelentes, outras pavorosas.
A atração dos skinheads pelo reggae se devia ao ritmo contagiante da música. As letras pouco importavam, já que a maioria não sacava os significados das gírias jamaicanas. Israelites de Desmond Dekker pode ter vendido oito milhões de cópias pelo mundo, mas se você perguntar a meia dúzia de caras o que a letra quer dizer, você terá meia dúzia de respostas diferentes. Por isso mesmo as faixas instrumentais tinham tanta popularidade quanto os números vocais: o essencial estava no som.
Toda essa proximidade da cultura britânica com a cultura jamaicana propiciou uma harmoniosa convivência onde garotos brancos e ngeros dançavam a noite inteira juntos sem o menor problema. Até que a paz se acabou. Num clube jovem do sul de Londres, a resposta de alguns idiotas à canção "Young Gifted and Black" (Jovens, talentoso e Negro) de Bob andy & Marcia foi cortar os fios do alto falante e entoar um coro contrário, dizendo "Young Gifted and White"(Jovem Talentoso e Branco). No começo de 70 , o reggae perdia um pouco de seu charme junto aos garotos brancos. A mudança de rumo das letras em direção à Babilônia, JAH e outros temas africanos, deixou muita gente a ver navios, e mais uma vez o som foi ficando confinados nos guetos das colônias jamaicanas. E o que seria a veradadeira raíz do reggae ficou esquecida, e muitas vezes ridicularizada por alguns que a chamam de "crua" e "simples".

Fonte: A Bíblia dos Skinheads
Transcrição e adaptação: Greg

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Um pouco sobre o skinhead reggae...


Essa história começa na segunda metade dos anos 60, simultaneamente em duas ilhas: Jamaica e Reino Unido. Em Kingston o mercado fonográfico estava á toda e a cada dia surgiam novos artistas tocando o ritmo local que acabava de surgir na ilha, o ska. Os artistas e selos estavam crescendo e seu campo de atuação também, e o ritmo local da ilha começou a se espalhar por outros cantos do mundo e em especial em outra ilha, o Reino Unido, mais precisamente na Inglaterra. A cultura mod, que trazia scooters, ternos alinhados e gosto pela música negra (R'n'B, Jazz e Soul) estava estourada na terra da rainha e os moleques ligados a essa cultura começaram a ouvir também, além dos ritmos negros norte-americanos, o ska, trazido pelas mãos dos imigrantes jamaicanos que vivam em terras inglesas. O novo ritmo jamaicano ganhou destaque no país e foi inclusive apelidado de bluebeat pelos locais. Seguramente pode-se afirmar que se não fossem os mods o ska não alcançaria o sucesso que alcançou nas paradas inglesas e ao mesmo tempo pode-se dizer também que a cultura mod foi muito influenciada pelo ritmo jamaicanos (inclusive no visual, adaptando o pork pie dos rudies a vestimenta mod). Prince Buster foi o primeiro a emplacar um som no top 40 inglês, com Al Capone. Como já foi citado acima, sem os mods o ska não seria o que foi, e o mesmo se aplica ao reggae e aos skinheads. Com o passar do tempo a cultura mod foi se dividindo em dois... Hard mods e psicodélicos. Os mods mais psicodélicos, cabeludos, estudantes de moda que estavam começando a ouvir sons diferentes das origens da cultura mod. E os hard mods que iam ao estádio de futebol fazer arruaça, mais rueiros e briguentos, que a cada dia mais estavam envolvidos com a música jamaicana e que mais tarde ganhariam o apelido de skinheads por cortarem seus cabelos cada vez mais curtos em resposta aos mods psicodélicos e aos hippies que surgiam com seus discursos paz-e-amor. Nota-se que a cultura skinhead NADA tinha a ver com racismo, pelo contrário, eram garotos amantes da música negra e que só apareceram graças à essa música e à cultura mod... ISSO é a cultura skinhead ORIGINAL, tudo o que surgiu depois disso é plágio, e plágio mal feito! Enquanto isso, na Jamaica a música se modificava rapidamente e o ska já não tinha a mesma batida... A nova batida que surgia foi chamada de rocksteady e logo deu origem ao ritmo que fez a fama da ilha: O reggae que teve seus anos de ouro na década de 60 até o começo da década de 70, com MILHARES de discos produzidos e surgimento de novos selos, não só na jamaica (muito bem representado por Duke Reid e sua Treasure Isle e por Sir Coxsone Dodd e sua Studio One) como também na Inglaterra (Trojan Records, Pama e subgravadoras em geral) . Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o reggae não tinha nada a ver com o rastafarianismo no começo, as letras falavam basicamente do cotidiano dos artistas nos guetos e principalmente eram temas de amor... A musicalidade bastante característica, com teclados e riffs de baixo dando o compasso do som mostrava claramente que o novo ritmo era uma evolução do ska... E foi esse reggae que fez a cabeça dos moleques na Inglaterra na segunda metade da década. 66, 67... É nessa época que começa a febre do reggae no país. Novamente os imigrantes jamaicanos residentes na Inglaterra, mas desta vez junto com os skinheads foram os grandes responsáveis pelo estouro do ritmo na terra da rainha. Enquanto os skins iam as grandes lojas e pediam cada vez mais discos do novo ritmo, os jamaicanos faziam a mesma coisa nas lojas independentes e de pequeno porte que se instalavam nos bairros mais afastados e ambos pediam aos djs que o novo ritmo fosse tocado. Isso foi o que fez o reggae estourar. Nomes como Laurel Aitken, Clancy Eccles, The Paragons, Toots and The Maytals, Desmond Dekker e até os Wailing Wailers (Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer) faziam esse tipo de reggae, que mais tarde foi denominado "Skinhead Reggae" (pela razão óbvia de terem sido os skinheads os maiores ouvintes desse ritmo na época) ou "Early Reggae". E assim como os moleques de Londres sabiam da existência dos seus músicos favoritos, os músicos da Kingston começaram a saber da existência dos garotos de cabeça raspada que veneravam a música jamaicana. Isso fez com que os artistas começassem a escrever temas para os skinheads, como "Skinheads a bash them" escrito por Laurel Aitken e interpretado por Claudette and The Corporation, "Hooligan" dos Wailing Wailers, e até mesmo músicas sem voz mas com títulos que sugeriam a ligação, que é o caso de "Skinheads don't fear" dos Hot Rod Allstars... A banda Symarip, também conhecida como Pyramids ou Seven Letters, que fazia reggae na época lançou inclusive um disco intitulado "skinhead moonstomp", que trazia do começo ao fim músicas citando a subcultura inglesa... Uma jogada e tanto, já que o reggae já estava estourado no país graças aos "homenageados"... Na Inglaterra começavam a surgir artistas tocando o som vindo da jamaica, com destaque para Judge Dread, o primeiro branco a emplacar um hit no top 40 de reggae inglês. Em 1969 a cultura skinhead alcançou seu auge... Uma moda desde os bairros mais pobres até os mais fartos que se espalhou pela Inglaterra e trazia com ela o amor pela música negra, principalmente jamaicana. Com o passar do tempo a cultura skinhead foi "evoluindo" e a partir dos anos 70 foram surgindo cada vez mais "sub-tipos", o que enfraqueceu a cultura. O reggae também não era mais o mesmo. Enquanto na Inglaterra o reggae ganhava novas influências da década que surgia, dando origem ao disco reggae ou club reggae, que era o reggae tocado nas boates londrinas, nas ruas de Kingston o rastafarianismo se popularizava cada vez mais e vários artistas da música popular da ilha começaram a misturar ritmos africanos e temas religiosos a sua música... Assim nascia o roots reggae, mas isso já é outra história...

By: Canuto Lion o Indomavél

HISTORIA, CARACTERÍSTICAS E CURIOSIDADES DO MUNDO DAS RADIOLAS/SOUND SYSTEM

este ensaio tenta capturar e retransmitir a essência do que chamamos de Radiola no Maranhão ou os Sound Systems de Reggae como são conhecidos na Jamaica. Apresentamos um escrito para todos aqueles que buscam conhecimentos e compreensão desta cultura em contínua evolução.

O fenômeno dos Sounds Systems de Reggae (também conhecidos como Sounds) é algo que há intrigado a muitos observadores na Jamaica e em todo o mundo há décadas. Em nenhum outro lugar do mundo poderia haver sido criada uma cultura que se mova tão rápido como os Sound Systems. Começaram como um movimento “underground” na indústria do Reggae jamaicano, mas os Sound Systems ascenderam até chegar a ser uma parte integrada na cultura do Reggae. De fato, as raízes do Dancehall Reggae podem ser traçadas a partir da formação dos Sounds Systems locais e nacionais conhecidos (alguns há mais de 30 anos).

O que compõe uma Radiola/Sound System?

As pessoas normalmente se surpreendem pela quantidade de apoio e componentes que se integram dentro de uma Radiola. Ainda que não haja uma composição preestabelecida, uma Radiola ideal é formada por: DJ’s, no Maranhão, na Jamaica teremos o Selector (Selektah), ou MC (Micro Chatter) que é o DJ, o dono ou administrador (Magnata ou Radioleiro), os técnicos, apoio móvel e de segurança, equipamentos, os seguidores da Radiola... e finalmente os não menos importante, os discos e os dubplates na Jamaica e em quase todo o mundo. No Maranhão temos os disquetes de MD gravados direto do vinil ou de CDs.

É importante notar ainda que não todas as Radiolas tenham todos estes componentes e alguns deles são imprescindíveis; por exemplo, uma Radiola sem DJ’s ou Selektah ou sem discos é como um televisor sem eletricidade, não funciona. Também é importante dar-se conta de que alguns papéis podem ser compartidos; assim, por exemplo, o Selektah pode ser ao mesmo tempo o DJ/MC e o proprietário da Radiola (o caso de Natty Nayfson em São Luis). Geralmente distinguimos três tipos de Radiolas: as caseiras com suas baianinhas, as amadoras normalmente atuantes em pequenas festas e as profissionais (Black Power, Natty Nayfson, Itamaraty, Estrela do Som, Rebel Lion,.etc.,), normalmente com 4 paredôes e com três equipes diferentes, a exempla da Radiola Itamaraty com os DJ’s Roberthanco, Bacana e Jean Holt que comandam as três Itamaraty em festas distintas em diversos lugares de São Luis e do Maranhão.

O Selector/Selektah

Provavelmente, o Selektah é um dos papeis mais importantes em uma Radiola no estilo Jamaicano. O imenso conhecimento e habilidade que se necessita para esta função (ao fim e ao cabo se queres ser bem considerado) e a dificuldade desta posição é muita vezes subestimada. Um bom selektah tem que conhecer centenas de discos e CD’s (incluindo os nomes dos artistas e sua localização na caixa) dentro de sua cabeça.

Por os discos em uma ordem e de maneira que apeteça as pessoas que os está escutando requer um alto nível de diligencia. Um selektah tem que ser hábil para fazer uma transição discreta de um disco ao seguinte (mixar). Estas habilidades que a menudo demoram anos em adquirir-se, mas chega a fazer com tanto o estilo que o encadeamento das músicas muitas vezes passa despercebidos. Um mal selektah, por outro lado, pode ser facilmente descoberto, e uma multidão descontente normalmente não duvidará em fazer manifesta sua desaprovação.

O DJ ou Mic Chatter (MC)

O DJ ou MC é a mão direita do Selektah e vice-versa. Ele é o responsável de introduzir os discos que tocam, de animar o público (criando vibração), de motivar-la a que participem cantando as canções populares e de pedir que o disco seja parado e posto outra vez imediatamente (também conhecido como “forward” ou “wheel” na Jamaica e no Maranhão é a famoso “toca de novo”). As obrigações do DJ/MC na festa são maiores que as de um MC em espetáculo ao vivo – voltando a por imediatamente os discos coincidindo com os pedidos do público. A multidão - a Massa regueira, aqui no maranhão vai normalmente ao móvel da Radiola e pede sua música; Já na Jamaica e Europa ele faz o “forward” ou “Wheel” mediante gritos, chiados, cantos, assobios, levantando seus isqueiros e mantendo-os acendidos no ar, dando golpes nas paredes, acendendo fogos, usando buzinas, ou inclusive simulando uma pistola com suas mãos no ar (chamados gun salutes).

O DJ/MC, além disso, deve anunciar os próximos eventos em que estará tocando, fazer piadas, tentar acalmar a multidão em caso de brigas e em alguns casos, fazer comentários com conteúdo político.

Em um Sound Clash (um grande encontro de DJ’s,) o papel de um DJ é, todavia, mais crucial. Aqui é o responsável de provocar verbalmente a seus oponentes (de outras Radiolas/Sounds) insultando-os (a isto se chama toasting), ou explicando piadas desconcertantes que possam ser verdade ou não (também chamadas drawing cards). Há alguns anos deixou-se de se fazer isso no Maranhão, antes os DJ’s diziam “vou passar por cima da seqüência de fulano” e faziam outras provocações de modo a fazer que a cada pedra o público ficasse ao lado de um ou de outro pela a melhor seqüência de pedras. Isso criava um clima saudável de disputa que animava bastantes as festas e servia de comentário durante a semana entre os fãs de Radiolas ou de DJ’s. Infelizmente esse costume foi abandonado pelos DJ’s do Maranhão.

Outros membros

Além do Selektah e o DJ/MC há muitas outras pessoas atrás da cena assegurando se de que a som funcione com a devida qualidade. O proprietário ou magnata (Radioleiro), que está a cargo de designar as tarefas de todos os outros membros. Esta pessoa é responsável também de buscar os contratos e registrar as datas para as atuações da Radiola/Sound. Os técnicos têm o trabalho de montar os componentes elétricos e assegurar-se de que todo soe perfeitamente. Se surge algum problema com o som antes, durante ou depois do evento, é trabalho do técnico concertá-lo. Os encarregados do translado (The moving staff ou "box bwoys" na Jamaica, aqui são os “carregadores de caixas” ou “Carregadores de Radiola”) se encarregam de transportar e colocar todo equipamento na posição adequada.

Os Fãs ou Sound Followers

Os seguidores ou fãs sãos os que fazem verdadeiramente a festa. Estes seguem a Radiola/Sound da mesma maneira que uma congregação segue uma igreja em particular. Os seguidores da Radiola/Sound assistem aos eventos onde esta atua, colecionam fitas cassetes, mixtapes, discos, CD’s e apóiam sua Radiola preferida durante um Sound Clash. Ainda que muitos fãs sejam seguidores ocasionais de uma Radiola, há outros que levam isto muito a sério. Estas crews ou massives (Massa Regueira), apóiam a Radiola de tal maneira que muitas vezes seu nome chega a ser sinônimo da Radiola em se mesmo (Pinto da Itamaraty, Luis Black Power, Luisinho Black System, Natty Nayfson, etc). Ter reconhecimento no microfone (bigged up), nos eventos em que a Radiola está fazendo sua apresentação, entrada para tais eventos, uma camisa, popularidade e respeito, um sentimento de orgulho regueiro quando sua radiola ganha um Clash (disputa ou encontro), ou simplesmente um sentimento de identificação com algo, são alguns dos muitos motivos de seu apoio.

Na Jamaica as duas Radiolas/Sounds mais conhecidas e disputadas são as Stone Love e a Love Stone só para citar as mais famosas.

Esperamos que com estas sucintas informações os leitores possam ter uma dimensão do significado das Radiolas/Sounds aqui e na Jamaica, e ver como temos características semelhantes apesar de estarmos distantes milhares de quilômetros um do outro.

O reggae ludovicense

Bom, como objetivo desse blog também é formar e informar, posto um texto de Elaine Peixoto Araújo, pós-graduanda em Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa / Universidade Estadual do Maranhão e Professora do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino, sobre o reggae maranhense, abordando aspectos gerais. É um texto bem didático, pra muitos o que tem aqui não é novidade, mas vale a pena dar uma olhada.

INTRODUÇÃO

.......O reggae, ritmo nascido na Jamaica, alcançou nas últimas três décadas, uma popularidade em São Luís do Maranhão que não se pode contestar. Esta intensa presença do ritmo no cotidiano maranhense possibilitou o surgimento de um movimento regueiro marcadamente ludovicense, repleto de peculiaridades.

.......No tocante ao campo lingüístico, observa-se um vocabulário próprio do regueiro, uma espécie de código pertencente a este movimento de identidade cultural que o legitima. Em função desta diversidade cultural presente no Estado, que deflagra na comunicação com o aparecimento de diversas variedades lingüísticas, é que se faz essencial investigar as lexias deste grupo específico (desconhecidas até então por muitos maranhenses), para uma melhor compreensão do caráter multidialetal do português brasileiro.

.......A presente pesquisa objetiva a análise e descrição de parte do universo lingüístico da comunidade regueira ludovicense, tomando por foco seu aspecto léxico-semântico e relacionando-o a seu contexto sócio-histórico. .......Para a concretização desses objetivos anteriormente citados, foi feito um levantamento bibliográfico referente à temática em questão e, principalmente, foram realizadas entrevistas com apresentadores de programas de reggae, autores de livros, dj's, donos de radiolas, cantores, bandas, produtores de festas, dançarinos, colecionadores e alguns freqüentadores desse movimento.

.......As entrevistas foram realizadas com os grandes nomes do reggae porque se percebeu que o processo de criação lexical dava-se nesse sentido; as expressões originam-se, em geral, da boca dessas pessoas influentes e são adotadas, em seguida, pela comunidade regueira. Era necessário, portanto, ir-se direto às fontes.

.......Feito um arrolamento lexical a partir destas entrevistas, iniciou-se um estudo do vocabulário do grupo, elegendo-se, para este momento, algumas das principais lexias da comunidade regueira, no intuito de investigar a sua etimologia, motivação e emprego.
REGGAE, UM CLAMOR AFRICANO
RE-SIGNIFICADO NAS AMÉRICAS

.......A história deste gênero musical acompanha o próprio percurso histórico do lugar onde nasceu, a Jamaica, uma ilha do Caribe localizada no centro da América Central. Um lugar repleto de índios arawak (em português, aruaques) antes da chegada de seus colonizadores, a Jamaica foi "descoberta" em 1494 por Cristóvão Colombo, e, primeiramente se chamava Xaymaca, nome indígena que significa "terra das primaveras" e, por extensão, "terra da madeira e das águas".

.......Com a intensa política de exploração e extermínio do sistema colonial, os índios foram dizimados. Para suprir a carência de mão-de-obra, a ilha recebeu, em seu período de colonização espanhola, e, posteriormente, inglesa, uma grande quantidade de negros da África Ocidental, que, forçosamente, deixavam seu continente-mãe para a realização de atividades compulsórias no Novo Mundo.

.......Apesar de toda a revolta e humilhação, sempre mostraram sinais de sua sensibilidade, expressando na dança e/ou na música a esperança de melhores dias e a crença de que todo aquele sofrimento seria passageiro. Foram, exatamente, o seu bailado, o seu ritmo e o seu canto de resistência os primeiros alicerces da cultura jamaicana.

.......O reggae, até nossos dias, continua sendo um canto de descontentamento do povo, um grito de denúncia em favor da transformação social. Foi batizado em 1968 por Toots and the Maytals, com a música Do the Reggay. Segundo os próprios músicos (ou seja, o cantor e sua banda), a palavra teria vindo de raggedy, adjetivo muito utilizado no dia-a-dia jamaicano, que denota algo deteriorado, surrado ou muito usado.
.......Remetendo-se àquelas primordiais manifestações culturais africanas, percebe-se que o reggae é o resultado de toda uma evolução musical que começou com a forma folclórica mento, fundamentada nas canções dos negros escravizados. Este antepassado do reggae "[...] desenvolveu-se baseado no ritmo das músicas de trabalho que ajudavam os escravos a sobreviver através de longas horas de esforço estafante com a picareta" (CARDOSO, 1997, p.18).

.......Essa forma musical nativa proveniente de tanta labuta, juntamente com o rhythm & blues americano, motivaram o surgimento do ska, que, por sua vez, originou um outro ritmo, o rocksteady. A transição do rocksteady para o reggae acontece no momento em que esta marcação do baixo se torna ainda mais acentuada e a pulsação mais lenta, dando uma maior cadência ao novo ritmo. E "Nasce assim o movimento Reggae, colocando em primeiro plano o baixo e a bateria, deixando os outros instrumentos como acompanhamento secundário". (CORONA, 2003).

.......O ritmo nasceu nos chamados "bairros de lata" da Jamaica, bairros da periferia edificados em barracões de zinco. É através desse dado que se depreende que, desde o seu aparecimento, o reggae sempre foi um som do gueto. Mas a magia do reggae, talvez, esteja no fato de conseguir mobilizar a população negra, mostrar a insatisfação para com a realidade, a discriminação racial sofrida e criar uma atmosfera de valorização das raízes negras, buscando reverter, assim, a opressão.

.......Com relação à construção e valorização da identidade, o reggae, em São Luís é, sem dúvida, o elemento de identificação da juventude negra, que assim o elegeu desde a década de 70. Uma primeira característica importante do movimento regueiro maranhense a ser citada é que, até hoje, a comunidade regueira de São Luís dança preferencialmente ao som dos reggaes jamaicanos produzidos nos anos 60 e 70 (o que não acontece mais, uma vez que, na Jamaica, a atual tendência é o dance hall, um reggae mais eletrônico) e ainda manifesta um menor interesse pelos reggaes brasileiros.
"A preferência é exclusivamente pelo reggae original da Jamaica". (SILVA, 1995, p.79)

.......Outra particularidade a ser destacada é a predileção por músicas mais vagarosas, que evocam uma atmosfera mais apaixonada; "[...] não existe entre os regueiros de São Luís uma ligação forte com Bob Marley. A preferência é por outros cantores considerados mais românticos, como John Holt, Gregory Isaacs, Eric Donaldson, entre outros". (SILVA, 1995, p.94).

.......Uma das razões pelas quais, talvez, este ritmo tenha se fincado em solo maranhense é a grande população negra presente tanto neste estado como naquele país, fato que já leva a uma certa identificação étnica, e, por conta disto, a um gosto comum pelos ritmos de raízes africanas. Poderia ser citada aqui, também, alguma semelhança no meio social, na medida em que os dois povos vivem realidades de pobreza parecidas, e o reggae é, exatamente, um grito de protesto, uma forma de expressão dos menos favorecidos.

.......Outro possível motivo para a grande identificação do maranhense com o reggae é a semelhança do reggae roots (o executado nos salões de São Luís) com certas manifestações culturais maranhenses, como, por exemplo, o bumba-meu-boi. Esta proximidade musical é, aliás, claramente audível: a célula rítmica do reggae roots é compatível com a de alguns sotaques mais ralentados do bumba-meu-boi (como o sotaque da Baixada) e é, em função desta semelhança, que ambas as células podem ser construídas sob o compasso 2/4.
.......Percebe-se que a pulsação do reggae feita pelo contrabaixo elétrico e pelo bumbo da bateria é a mesma feita pelo pandeirão e pelo tambor-onça no bumba-meu-boi. O reggae também possui compatibilidade rítmica com uma outra manifestação da cultura maranhense, o bloco de ritmos; a marcação feita pelo pedal da bateria muito se aproxima da do contratempo, aquele longo tambor dos blocos tradicionais da cidade.
.......Há muitas versões para o primeiro encontro dos maranhenses com o ritmo jamaicano. A versão mais aceita é a de que, no começo dos anos 70, um apreciador de músicas caribenhas àquela época, Riba Macedo, teria tido acesso a alguns discos de reggae vindos de Belém (estes, por sua vez, contrabandeados da Guiana Francesa) e teria começado a levá-los a festas "regadas" aos sons do Caribe, festas promovidas por donos de radiolas, como "Carne Seca" (José de Ribamar Maurício Costa).

.......Cabe, neste momento, lembrar que o reggae não foi o primeiro ritmo das radiolas do Maranhão, que antes executavam outros ritmos caribenhos, como a salsa, o bolero e o merengue. Estes ritmos embalaram os freqüentadores dos salões de São Luís e do interior (principalmente da baixada maranhense) até meados da década de 70.

.......Os freqüentadores destas festas, mesmo não sabendo o nome daquele ritmo, aprovaram a sua cadência mais vagarosa e já buscavam seus pares no momento em que os reggaes eram executados. Dançavam-no de forma similar aos outros ritmos caribenhos, num intenso deslizar de corpos, com movimentos de muita sensualidade. Desta "interferência de passos" nasceu uma das particularidades do reggae maranhense, o dançar agarradinho, e, hoje, "[...] São Luís é o único ou um dos poucos lugares do mundo onde se dança reggae aos pares" (SILVA, 1995, p.25).

.......Assim, o reggae foi, aos poucos, inserindo-se e firmando-se no gosto do público maranhense, até que na década de 80/ começo da década de 90, consolidou-se como o principal ritmo da periferia de São Luís, que passou a ser chamada de Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae. Neste momento de grande aceitação da música de Jah, as radiolas já quase não tocavam outros ritmos; sua preferência passou a ser a execução de reggaes que, a partir de então, transformaram-se em verdadeiras "pedras preciosas". E quão preciosas eram...
.......Os proprietários de radiolas pagavam quantias exorbitantes pela posse exclusiva de um LP. Esta disputa era tão acirrada, que chegavam a financiar viagens de algumas pessoas para a busca de raridades na Jamaica, Londres, Holanda e França. A mola mestra do movimento tornou-se a exclusividade; as radiolas possuidoras de reggaes raros e comoventes (que abalavam, agitavam e emocionavam) eram as eleitas pela massa regueira. O objetivo do regueiro ao ir a uma festa era ouvir os melôs (os reggaes) exclusivos de sua radiola e sentir a motivação, o delírio do discotecário ao executá-las. .......Esta [...] capacidade de manter a exclusividade fonográfica garante a alguns proprietários de radiolas a permanecer em evidência junto à comunidade regueira, e, por sua vez, é a comunidade que nesse ranking elege os melhores, independente do tempo de existência da radiola ou do clube. (SILVA, 1995, p.53).

.......Atualmente, apesar de muitos reggaes já estarem disponíveis para download na Internet, as radiolas ainda buscam os LP's originais, uma vez que "A essência do reggae maranhense é o chiado da bolachinha" (SILVA, M. V., 2003).

.......A exclusividade mantém-se nestes tempos de aumento constante do dólar não mais por meio de viagens internacionais, mas pela encomenda de músicas pelos proprietários das radiolas. Com isso, cantores jamaicanos que moram em São Luís, como Norris Colle e Bill Campbell ou mesmo cantores locais como Dub Brown, compõem suas músicas (às vezes até a gosto da radiola), vendem-nas e um contrato de exclusividade é cumprido; a música só poderá ser executada pela radiola que a encomendou até o lançamento do cd do cantor. Estas encomendas musicais são negociadas a preços astronômicos, e pode-se, certamente, inferir-se por meio deste fato que a posse de exclusividades ainda é a grande vedete do reggae.
.......As radiolas continuam sendo as grandes difusoras do reggae e o seu grande sustentáculo. Somente na capital, há mais de oitenta delas, entretanto se especula que em todo o Estado haja mais de quatrocentas. Esses sistemas colossais de som contam, em média, com 24 a 36 caixas por conjunto, que é chamado de paredão ou coluna. Cada radiola possui, aproximadamente, quatro paredões, quando não existe a divisão de radiolas; a Itamaraty, uma das principais radiolas da cidade, subdivide-se em Itamaraty 1, 2 e 3, ou seja, doze paredões de som! A subdivisão de uma radiola possibilita a participação em vários eventos em um só dia, e, principalmente, a obtenção de maior lucro.

.......O ritmo do reggae, em São Luís, é um bem cultural da população de baixa renda, que encontra ali, naqueles salões de festa um elo de identificação. Mas apesar de ser um verdadeiro sucesso entre a massa regueira, é visto, ainda, pelas classes de maior prestígio econômico, como um ritmo inferior.

.......Compreende-se, nesse sentido, que o reggae jamaicano é um produto cultural construído a partir de elementos africanos, em outras palavras, é uma re-elaboração, uma re-significação da cultura africana em terras americanas. O reggae no Maranhão, sem desmerecê-lo, é uma espécie de "café coado duas vezes", visto que, ao chegar ao Estado, fez-se passar por uma terceira elaboração. Por conta disso, adquiriu contornos particularmente maranhenses, características específicas deste alegre povo que o recebeu e o adotou, tanto que hoje é um dos ritmos que traduz o povo e o modo de viver maranhense.
Insere-se, neste contexto, o "léxico maranhense" que é marcado por algumas expressões lingüísticas particulares, originadas da grande influência do reggae na realidade social ludovicense. Depreende-se disso que as estruturas sociais estão expostas nas estruturas lingüísticas e o movimento regueiro, sendo, já, uma expressão da cultura maranhense, imprimiu as suas lexias na fala daquele povo.

.......Contudo, estas alterações não descaracterizam o léxico de uma língua, uma vez que possui uma espécie de agregado de lexias sempre compartilhadas por seus falantes. Este agregado lexical comum, [...] que caracteriza uma língua é tão resistente quanto a gramática porque as noções que ele expressa, de um lado, não são afetadas por mudanças econômicas e sociais, e, de outro, porque são de uso geral e coloquial. Esse fundo comum é o sustentáculo da estrutura léxica de uma língua. (FIORIN, 2001, p.113).

.......As lexias criadas pelo movimento regueiro ludovicense retratam toda a sua ambiência física e social: os equipamentos de som que dão vida às festas (radiolas), os grandes nomes do reggae (magnatas), as músicas românticas que são executadas (pedras manhosas) e até mesmo algumas situações desinteressantes que possam vir a acontecer, como a recusa de um convite para dançar (passar um ferro).

.......Diante do exposto, conclui-se que estas variedades lexicais presentes na fala maranhense, em momento algum, representam a ruína ou o desmoronamento da Língua Portuguesa (segundo a visão de alguns preconceituosos), mas espelham a história, a dinamismo cultural presente no país e a dinamicidade da língua portuguesa falada no Brasil. É preciso atentar-se para o fato de que a expansão lexical é natural e está fortemente marcada por condicionantes sócio-culturais.
ANÁLISE DO LÉXICO: O COROLÁRIO DA PEDRADA

.......Sabendo-se que as palavras designam os fenômenos do mundo, faz-se essencial a investigação do campo léxico deste movimento para que, de modo igual, observe-se todos os componentes de natureza sócio-histórico-cultural que determinaram a configuração deste vocabulário, tão repleto de particularidades. Segue, pois, a análise semântica de seus principais itens lexicais:

Pedra, pedra de responsa, pedrada, varada, pancada e tijolada. (s.f.)

.......As unidades lexicais pedra, pedra de responsa, pedrada, varada, pancada e tijolada possuem significações equivalentes no movimento regueiro e nomeiam "um reggae muito bom, bonito ou envolvente" (ALiMA..., 2003), uma acepção bem peculiar e interessante.

.......Provavelmente, a escolha de pedra se deva ao fato de que seu referente, em toda a história, sempre possuiu um importante valor simbólico para a humanidade. Conforme demonstra Cunha (1982, p.590), esta lexia provém do latim petra -ae, derivada do grego pétra e refere-se à "matéria mineral dura e sólida, da natureza das rochas". (FERREIRA, 1999, p.1525).

.......Os gregos tiveram, no princípio, pedras como deuses. A representação do sagrado pelas imagens atuais evoluiu desse culto litográfico, como atesta (CASCUDO, [19..?], p.694) "a pedra e depois a pilastra foram as representações iniciais". Algum tempo depois, no Cristianismo, Pedro (substantivo próprio derivado de pedra), príncipe dos apóstolos foi considerado a base da igreja católica, o seu sustentáculo, pois, sob a sua figura, foram assentados os alicerces da igreja. "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja [...]. Mt, 16, 18". (ALMEIDA, 1993, p.23).
.......Pela associação com a solidez e resistência da pedra é que, segundo um dos entrevistados, José Eleonildo Soares, o "Pinto da Itamaraty", uma música muito bonita na Jamaica é denominada stone, por ser uma música "de peso", de força, de resistência; o Maranhão teria herdado espontaneamente esta lexia, traduzindo-a, assim, para o português (pedra).

.......Vale aqui ressaltar rapidamente que pedra já se tornou também um adjetivo, sinalizando algo superior, magnífico ou maravilhoso. Como exemplos, têm-se: aquela garota é pedra, esta música é muito pedra.

.......Quanto à locução adjetiva ou o qualificador "de responsa", é a abreviação ou a redução do termo "de responsabilidade", ou seja, um reggae de grande importância, digno de respeito por sua beleza.

.......As lexias pancada, tijolada, varada e pedrada, por sua vez, seguiram a mesma motivação semântica da palavra lambada. Morfologicamente, lambada é uma forma híbrida, constituída, como afirma Castro (2001, p.263), de lamba (do banto / kwa[1]) + ada (sufixo nominal português que indica ação), que significa "golpe de chicote, golpe dado com lamba (chicote, tala de couro)".

.......Ferreira (1999, p.181) apresenta acepção similar, a de "golpe de chicote, tabica ou rebenque; lapada, lamborada", mas para ele, etimologicamente, esta lexia é uma variedade de lombada, com assimilação. Pode-se dizer, analogicamente, que, se lambada é um golpe, um açoite físico; uma pedrada é um reggae de impacto que bate fortemente na alma (como igualmente as demais lexias) ou que abala o espírito por sua qualidade.

Melô (s.m.)

.......Investigada sob a perspectiva do reggae são-luisense, a lexia melô é muito utilizada em razão do não-conhecimento da língua inglesa por parte dos regueiros maranhenses. Porém, para eles, isso não se constitui um problema, na medida em que alegam que o mais importante é perceber e envolver-se com a melodia e pulsação rítmica do reggae. O regueiro "Não tem o conhecimento da linguagem, mas tem um conhecimento maior que é o feeling da música, ele sente a vibração da pancada [...]" (SANTOS, 2003).

.......Como, geralmente, as letras dos reggaes roots são compostas em inglês, o regueiro, para facilitar a identificação da música, bem como o seu pedido nas rádios, chama-a de melô + uma locução adjetiva determinada pela comunidade regueira por algum motivo particular.

.......Ilustrando este processo de denominação com exemplos, a música Sweet P. do grupo Fabulous Five é chamada, pelos regueiros maranhenses, de "melô da chuva". Esta denominação não tem qualquer tipo de relação com sua letra: na ocasião em que foi lançada em São Luís pelo dj Carlinhos Tijolada no clube Barraca de Pau na Cidade Operária, chovia torrencialmente e, por conta deste fenômeno da natureza, a música foi designada desta forma.

.......A música White Witch da banda Andrea True Conection é conhecida na cidade por "melô do caranguejo", contudo, o motivo, neste caso, foi a adaptação fonética (adaptação que, aliás, já inspira um interesse para pesquisas posteriores). Em seu refrão, há trecho em que é perguntado What's gonna get you? (expressão idiomática inglesa que significa O que te chamará a atenção?, O que irá te prender?), o regueiro maranhense, ao escutar este refrão, acomodou a expressão ao sistema fonológico de sua língua materna, o Português, passando a cantar "olha o caranguejo". E, assim, nasceu o "melô do caranguejo".
.......O item lexical melô foi formado a partir do processo de redução de melodia, que designa uma "sucessão rítmica, ascendente ou descendente, de sons simples, a intervalos diferentes, e que encerram um certo sentido musical" (FERREIRA, 1999, p. 1313). A motivação desta lexia no reggae origina-se, especificamente, de uma certa ligação entre este sentido de composição musical com o ritmo do reggae. E, é em razão desta associação de significados, que melô indica, nos dias atuais, "os reggaes executados nas festas e programas de rádio".

Radiola (s.f.)

.......A lexia radiola, datada do século XX, designa a junção de dois recentes e grandes inventos do campo da comunicação. Trata-se de um tipo de redução, segundo CUNHA (1982, p.660), de radi (o) + (vitr) ola. Na acepção de Ferreira (1999, p.1698), "é um aparelho em que se conjugam o rádio e a vitrola; radiovitrola".

.......A lexia foi incorporada ao falar maranhense antes mesmo da chegada do reggae a São Luís, visto que as músicas eram executadas nas festas a partir da reprodução direta dos vinis pelos toca-discos, também chamados de vitrolas ou eletrolas, e emitidas pelas caixas de som amplificadas (ou ligadas a amplificadores).

.......Assim, atualmente no universo regueiro, radiola, "é o conjunto de equipamentos de som das festas de reggae" (ALiMA..., 2003) (mesa do dj + conjunto das caixas de som), pela relação quase indissociável que há entre os sistemas de som e o ritmo, desde a sua explosão nos anos 80 em São Luís. No tocante à qualidade, uma radiola não é analisada por seu tamanho ou quantidade de caixas de som, mas pela sua qualidade sonora (o que implica, de certa forma, uma boa emissão da marcação do contrabaixo) e pela seqüência de músicas executadas, que precisa agradar aos regueiros.
Radioleiro

.......A lexia radioleiro, ainda não dicionarizada, é formada por radi (o) + ol (a) + o sufixo nominal -eiro, que indica, na Língua Portuguesa, noções como a do indivíduo que pratica uma ação, como pistoleiro, aquele que pratica uma tarefa, como mensageiro ou aquele que exerce uma profissão, como marceneiro, sendo esta última a mais apropriada para o caso, pois a lexia é entendida, no contexto do reggae, como o substantivo que denomina "o proprietário de uma radiola".

Paredão (s.m.)

.......Prosseguindo a análise das lexias, há um outro termo muito particular da comunidade regueira - paredão. Datado do século XVII, conforme Cunha (1982, p.582), é constituído por parede (do lat. parete) + ão (sufixo aumentativo nominal português).

.......Ferreira (1999, p.1500) e Houaiss (2001, p.2133), respectivamente, apresentam as seguintes acepções: "grande parede; muro alto e muito espesso, muralha e muro muito elevado e consistente."

.......Relacionando as acepções dos dicionários à colhida em entrevistas, observa-se que a lexia foi criada por um processo de associação semântica, já que as caixas de som dos salões de festa realmente ganham a forma de muralhas colossais. Deste modo, paredão, nos salões da capital maranhense é "o conjunto das caixas de som das festas de reggae". (ALiMA..., 2003).


Seqüência (s.f.)

.......Percorrendo este caminho de significações tão características do vocabulário regueiro ludovicense, chega-se à lexia seqüência, conceituada nos dicionários, em geral, de maneira semelhante, apresentando acepções muito parecidas com a de encadeamento, sucessão de elementos.
No falar das pessoas que fazem parte deste movimento cultural, quando uma série de reggaes é executada somente por uma determinada radiola, chama-se seqüência exclusiva. Cada radiola em São Luís possui sua seqüência particular, com um qualificador específico para chamar a atenção dos regueiros; a Estrela do Som possui a seqüência demolidora, a Itamaraty, a seqüência estilosa, a Rebel Lion, a seqüência indomável, a FM Natty Nayfson, a seqüência arrasadora.


Bolachinha (s.f.) e Bolachão (s.m.)

.......Tomando por referência HOUAISS (2001, p.480), que apresenta a acepção de bolacha como sendo "biscoito chato de farinha de trigo ou maisena, com pouco fermento, de forma retangular, de disco etc [...]", depreende-se que, neste caso, diante da semelhança da forma arredondada do biscoito com os discos de vinil, surgiram, no vocabulário do reggae de São Luís, as formas bolachinha e bolachão, que nomeiam, respectivamente, "disco fonográfico compacto de vinil, com uma ou duas composições em cada lado" e "disco fonográfico grande de vinil, long play". Faz-se importante registrar que a bolachinha e o bolachão, mesmo com o advento das fitas cassete, do cd e do md, ainda são muito utilizados nas festas.


Caber (v.i.)[2]

.......A lexia caber provem do latim capere e data do século XIII, tendo como acepções "poder ser contido, poder realizar-se, exprimir-se, suceder, dentro de um certo tempo" (FERREIRA, 1999, p.350). Esta primeira acepção ilustra o emprego da lexia no ambiente regueiro, que, por uma espécie de ajustamento semântico, adentrou aquele espaço para dar forma a uma expressão que denota o interesse do regueiro por uma garota.

.......Acompanhada da locução adverbial locativa na minha pontuação, esta expressão é utilizada pelo regueiro quando este percebe e quer demonstrar que uma determinada garota é possuidora de todos os atributos que procura. Como um sapato que se ajusta perfeitamente ao pé de uma pessoa, precisamente compatível à medida que calça, assim é igualmente a regueira que desperta a sua atenção.
Levar (v.t.) e Passar (v.t.)[3]

.......A exemplo de caber, outros verbos são observados no falar regueiro com significação bem característica - levar e passar.

.......O verbo levar, seguido do complemento ferro (OD), designa figuradamente e em sentido popular, "ser malsucedido em (alguma coisa); levar chumbo" (FERREIRA, 1999, p. 895), apresentando Houaiss (2001, p.1749) definição semântica idêntica. É provável que ferro esteja presente nesta expressão por sua rijeza, dureza e resistência, simbolizando, metaforicamente, a dificuldade para enfrentar os insucessos e decepções da vida.

.......Pela analogia semântica, por também representar um desgosto, um desapontamento, esta expressão foi incorporada ao contexto regueiro para denominar, da mesma forma, uma situação decepcionante, "o momento em que o regueiro tem seu convite para dançar recusado". Em geral, é o homem quem leva ferro, pois o reggae é ainda um espaço machista; as mulheres ficam aguardando um convite para dançar aos pares.

.......Quando a regueira rejeita o convite, ela passa um ferro, ou seja, "aplica" uma resposta negativa ao pretendente. Esta lexia foi motivada pelo ajuste semântico a uma das acepções de passar: "transferir, transmitir" (LAROUSSE, 1993, p.265).

Carimbar (v.t.d.)[4]

.......Este exemplo final busca comentar o emprego e a significação de carimbar, forma verbal nomeante de um ato típico do reggae. O registro etimológico do termo data do ano de 1844, como comprovam as pesquisas de Cunha (1982, p.156).

.......Castro (2001, p.203) define a lexia como "colocar carimbo". Carimbo, por sua vez, tem sua origem no banto, sugerindo "selo, sinete, sinal público com que se autenticam documentos" (CASTRO, 2001, p.203).

.......Ao que tudo indica, esta palavra chegou ao movimento regueiro motivada por este sentido de deixar uma marca, um traço, e, por meio da semelhança de significado com este conceito anterior, carimbar (acompanhada do complemento verbal a música) simboliza, na linguagem regueira, "o ato de colocar vinheta ou prefixo num reggae com o nome de uma dada radiola". (ALiMA..., 2003). Esse ato tem por objetivo marcar a exclusividade de uma música por uma radiola (evitando, assim, o compartilhamento de uma "raridade"), como também facilitar a identificação das radiolas nas festas.

CONCLUSÃO

.......Por fim, pode-se chegar à conclusão de que essas lexias designativas do ambiente regueiro partem, em sua maioria, de formas lingüísticas já existentes, entretanto, possuem um significado contextual especial, fruto da ressemantização destas unidades, uma vez que passaram a nomear novos referentes que dão o feitio a uma realidade particular - o reggae ludovicense. O regueiro, na verdade, "[...] recorreu a lexias já conhecidas e de uso comum na língua e lhe atribuiu certos traços específicos de maneira que pudessem expressar o que desejava comunicar." (ISQUERDO, 2001, p.99).

.......Ao se encerrar esta breve pesquisa, tem-se uma convicção cada vez maior de que a linguagem de um grupo, mais especificamente, o seu léxico, adapta-se aos moldes das práticas sociais que o mesmo desempenha. O léxico do reggae ludovicense formou-se / forma-se com a construção e o desenvolvimento do próprio movimento, abarcando em si todos os seus fenômenos físicos e sociais e, ao mesmo tempo, traduzindo em palavras todo aquele contexto.

.......Por fim, espera-se ainda que esta pesquisa venha, além de proporcionar uma contribuição substancial e efetiva para o entendimento da língua portuguesa no Brasil como uma unidade sistêmica que abrange várias normas em uso, auxiliar os autores de livros didáticos na confecção de materiais que retratem o falar maranhense, já que, muitas vezes, adentram a sala de aula textos de vocabulário alienígena que desinteressam os alunos.